Capítulo 1 – Tito reúne em Cesaréia suas tropas, para marchar contra Jerusalém. O partido de João de Giscala se divide em dois; Eleazar, chefe desse novo partido, ocupa a parte superior do Templo. Simão, por outro lado, era senhor da cidade e havia ao mesmo tempo então em Jerusalém três partidos que se guerreavam mutuamente.

Depois que Tito, como vimos, atravessou os desertos que estão entre o Egito e a Síria, chegou a Cesaréia para ali reunir novas tropas. Enquanto ainda estava em Alexandria, onde, com Vespasiano, seu pai, ocupava-se em organizar todos os interesses da cidade e do império que Deus lhes havia entregado, for­mou-se em Jerusalém um terceiro partido. Todos eram inimigos e devia-se antes considerar como um bem, que como um mal, essa oposição entre eles, pois é para se desejar que os maus se destruam uns aos outros.

Vimos, pelo que acabo de relatar, o início e o crescimento progressivo do partido dos zelotes, que tendo usurpado o poder foram a primeira causa da ruína de Jerusalém. Este partido dividiu-se e produziu um terceiro, como um animal feroz, que volta seu furor contra si mesmo, quando, em sua raiva, não encontra nada que lhe possa resistir.

Eleazar, filho de Simão, que desde o princípio havia, no Templo, incitado os zelotes contra o povo, não sentia menor prazer do que João em manchar suas mãos de sangue; e como ele não podia tolerar sem ira que ele se tivesse apode­rado do governo, porque ele também o desejava, separou-se dele, com o pre­texto de não poder suportar por mais tempo sua ousadia e insolência. Judas, filho de Chelsias, e Simão, filho de Efrom, ambos homens de posição, e Ezequias, filho de Chobaro, que era de ilustre família, juntaram-se a ele e cada um, segui­do por muitos zelotes, ocupou a parte interna do Templo e colocou suas armas sobre as portas sagradas, com a persuasão de que nada lhes faltaria, porque se faziam oblações contínuas, as quais sua impiedade não receava empregar para usos profanos. Sua única pena era não serem em grande número, para poder empreender algo. João, ao contrário, possuía muitos homens; mas eles tinham sobre ele a vantagem da elevação do lugar que o continha de tal modo, que ele não se deixava levar pelo ardor a atacá-los. Mas não podia conter-se totalmen­te, embora se retirasse sempre com perdas; o Templo estava todo conspurcado por assassínios.

Por outro lado, Simão, filho de Cioras, que o povo, no desespero, havia chamado em seu auxílio e não tivera receio em receber como tirano, tendo ocupado a cidade alta e a maior parte da cidade baixa, atacava João, tanto mais corajosamente quanto o via empenhado também em sustentar a luta conta Eleazar. Mas como João tinha as mesmas vantagens sobre Simão, que Eleazar tinha sobre ele, porque assim como a parte exterior do Templo era dominada pela superior, ela dominava a cidade e ele não tinha grande dificuldade em repelir Simão; empregava para se defender de Eleazar longos pedaços de pau e máquinas que atiravam pedras. E por esse meio não so­mente matava muitos partidários de Eleazar, mas também muitas pessoas que vinham oferecer sacrifícios. Ainda que não houvesse impiedade que a raiva daqueles malvados não os levasse a cometer, não recusavam a entrada dos santos lugares aos que vinham para oferecer sacrifícios, mas antes os faziam esbulhar por pessoas destinadas por eles a esse fim, embora fossem judeus; os estrangeiros, quando se julgavam em segurança depois de ter acha­do alguma complacência entre aqueles homens furiosos, eram mortos pelas pedras que as máquinas de João atiravam, cujos golpes chegavam até o altar e matavam os sacerdores, com os que estavam oferecendo os sacrifícios. Viam-se assim pessoas que vinham dos extremos do mundo, para adorar a Deus naquele lugar sagrado, cair mortas com suas vítimas e banhar com seu san­gue o altar, cultuado não somente pelos gregos, mas ainda pelas nações mais bárbaras. Via-se esse sangue correr em rios de corpos feridos tanto dos sacer­dotes, como dos outros, dos originários do país, como dos estrangeiros, de que aqueles lugares santos estavam cheios.

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