Capítulo 1 – Salomão manda matar Adonias, Joabe e Simei. Remove Abiatar do cargo de sumo sacerdote e desposa afilha do rei do Egito.
1 Reis 2. No livro precedente, mostramos as virtudes de Davi, os benefícios de que nossa nação lhe é devedora e como, depois de tantas vitórias, ele morreu numa feliz velhice. Salomão, seu filho, que ele constituíra rei ainda vivo, tal como Deus havia ordenado, substituiu-o ainda muito jovem, e o povo, com grandes aclamações, desejou-lhe, segundo o costume, toda sorte de prosperidade e um longo reinado.
Adonias, que, como também já vimos, quis ocupar o trono enquanto o pai ainda vivia, foi procurar a rainha Bate-Seba, mãe de Salomão. Ela perguntou-lhe se precisava dela, pois o serviria de boa mente. Respondeu Adonias que ela sabia que o reino pertencia a ele, tanto por ser o mais velho quanto pelo consentimento unânime do povo. No entanto Deus havia preferido Salomão, e ele se submetia a isso, contentando-se, no momento, com a sua condição presente. Suplicava-lhe, todavia, que intercedesse por ele perante o rei, a fim de que lhe fosse dada Abisague em casamento, que todos sabiam ser ainda virgem, pois Davi a tomara somente para aquecer-se, quando a natureza já não lhe dava mais calor na sua velhice.
Bate-Seba prometeu-lhe fazer aquele favor e afirmou acreditar que ele, por intermédio dela, o obtivesse, quer pelo afeto que o rei dedicava a ela, quer pelo pedido que lhe faria. E foi imediatamente falar com o rei. Ele veio à sua presença e, depois de tê-la abraçado, levou-a ao salão onde estava o trono, e a fez sentar-se à sua direita. Ela falou: “Tenho um favor, meu filho, a vos pedir, e não me deis o desprazer de negá-lo a mim, eu vos peço”. Ele respondeu que, nada havendo que não se deva fazer por uma mãe, se admirava de vê-la falar daquele modo, como se duvidasse de que ele não lhe concederia com prazer tudo o que desejasse. Pediu-lhe então Bate-Seba que ele consentisse que Adonias desposasse Abisague.
Tal pedido surpreendeu-o e de tal sorte o irritou que ele retrucou, dizendo que Adonias devia pedir também a coroa, sendo irmão mais velho que ele. Era evidente que só desejava aquele casamento por um mau propósito, e todos sabiam que Joabe, general do exército, e Abiatar, sumo sacerdote, estavam também envolvidos. Imediatamente mandou chamar Benaia, comandante da guarda, e ordenou-lhe que fosse matar Adonias.
Mandou chamar também Abiatar, sumo sacerdote, e disse-lhe: “Vós merecíeis que eu vos mandasse matar, por terdes seguido o partido de Adonias. Mas as tribulações que suportastes pelo meu falecido pai e rei e a parte que tivestes com ele na trasladação da arca da aliança impedem-me de vos dar outro castigo senão o de que vos retireis e jamais vos apresenteis novamente diante de mim. Ide para vosso país e lá ficai, no campo, durante o resto de vossa vida, pois vos tornastes indigno do cargo que possuis”.
Foi assim que o sumo sacerdócio saiu da família de Itamar, como Deus havia predito a Eli, avô de Abiatar, e passou para a de Finéias, na pessoa de Zadoque. Durante o tempo em que esse cargo ficou na família de Itamar, depois de Eli, que por primeiro o havia exercido, os da família de Finéias que levaram vida provada foram: Boci, filho de José, sumo sacerdote; Joatram, filho de Boci; Meraiote, filho de Joatram; Arofe, filho de Meraiote; Aitube, filho de Arofe e pai de Zadoque, feito sumo sacerdote no reinado de Davi.
Quando Joabe soube da morte de Adonias, não duvidou de que o tratariam do mesmo modo, pois se declarara por ele. Então refugiou-se junto do altar, na esperança de que a piedade do rei teria respeito por um lugar tão santo. Mas Salomão, por meio de Benaia, ordenou-lhe que comparecesse ao tribunal para se justificar e para defender-se. A isso ele respondeu que não sairia de onde estava e que, se tivesse de morrer, preferia que tal se desse num lugar consagrado a Deus.
Salomão, depois dessa resposta, ordenou a Benaia que cortasse a cabeça de Joabe e enterrasse o corpo, para castigá-lo também pelos dois outros grandes crimes que cometera, os assassinatos de Abner e Amasa, a fim de que, caindo sobre ele e sua posteridade o castigo, todos soubessem que ele, Salomão, e o rei seu pai estavam inteiramente inocentes. Benaia executou a ordem e sucedeu a Joabe no cargo de general. A responsabilidade do sumo sacerdócio convergiu inteiramente para a pessoa de Zadoque.
Salomão, ao mesmo tempo, ordenou a Simei que construísse uma casa em Jerusalém, para lá morar, com ordem de jamais ultrapassar o ribeiro de Cedrom, sob pena de morte. O rei fez com que ele a isso se obrigasse com juramento. Simei agradeceu muito aquela graça e disse, ao fazer o juramento, que cumpriria a ordem de todo o coração. Assim, deixou o seu país e veio para Jerusalém.
Três anos depois, dois de seus escravos fugiram e se refugiaram em Gate. Simei foi até lá, apanhou-os e os trouxe de volta. Salomão, irritado não somente por ele haver desprezado a sua ordem, mas também por ter violado o juramento feito na presença de Deus, mandou chamá-lo e disse-lhe: “Vós sois mau! Não me tínheis prometido com juramento não sair de Jerusalém? Não temestes acrescentar perjúrio ao crime de ter ultrajado com palavras o rei meu pai, quando a revolta de Absalão o obrigou a abandonar a capital de seu reino? Preparai-vos para sofrer o suplício que mereceis e que fará conhecer a todos que a demora do castigo dos maus serve apenas para tornar a pena mais rigorosa”. Depois de assim falar enviou-o a Benaia, para que este o executasse.
Depois que Salomão se desfez de seus inimigos e desse modo consolidou o poder, desposou a filha de Faraó, rei do Egito, fortificou Jerusalém e governou sempre em profunda paz. A sua juventude não o impedia de ministrar a justiça ou de observar as leis. Procedia em tudo com vigilância, prudência e sabedoria, como se fosse muito mais velho, porque tinha continuamente diante dos olhos as instruções que recebera do rei seu pai.
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