Este texto é a continuação da parte 1: Leia aqui
Em abril de 2019 nós tivemos um encontro muito precioso com o Jorge Himitian na casa de Luciano. Naquele dia, ao ser perguntado o que era necessário para a igreja voltar ao vigor dos primeiros dias (igreja primitiva) e ao vigor dos dias dele, no início da restauração (final dos anos 60) ele destacou seis (6) fundamentos. Os três primeiros foram:
- Precisamos voltar à oração intensa de busca de Deus, voltar à direção e dependência do E. Santo;
- Precisamos voltar ao evangelho do Reino, à revelação e prática do governo de Jesus em nossas vidas;
- Precisamos voltar a praticar as obras que Deus delegou à igreja, e praticá-las no poder do Espírito Santo.
Jorge nos lembrou que há cinco obras que são exclusivas da igreja. Se a igreja não fizer, ninguém mais as fará: nem os anjos, e nem mesmo Deus! São nossa responsabilidade. Essas cinco obras são:
- Pregar o evangelho do Reino (semeadura);
- Fazer discípulos, ou seja, conduzir aqueles que creem no evangelho e se arrependem ao batismo nas águas e a receberem a promessa do batismo no E. Santo (colheita);
- Discipular, isto é, ensinar os novos discípulos a praticarem a vontade de Deus no seu dia-a-dia;
- Formar obreiros, que quer dizer, formar novos discipuladores;
- Plantar igrejas, isto é, novos grupos caseiros ou “igrejas nas casas”.
Observe que em relação às cinco obras que foram delegadas à igreja tudo se inicia com a pregação do evangelho. Mas o que significa “pregar o evangelho”? Vamos recordar:
- Pregar (gr. “Kerusso”) significa: proclamar abertamente algo que foi feito; tornar algo conhecido; anunciar;
- Evangelho, como sabemos, quer dizer “boas novas”, “boas notícias”.
O termo “pregar o evangelho” está intimamente ligado à uma prática relativamente comum no Império Romano, inclusive nos tempos de Jesus.
De acordo com o irmão Ed Leo, pastor na Indonésia (Retiro Pastores 2019, Porto Alegre) quando os exércitos de Roma conquistavam uma cidade, o general que comandava aquele exército – também chamado de “apóstolo” – ia para um ponto central da cidade, colocava-se num lugar visível e pregava o evangelho do Império Romano. Quais eram as “boas notícias” que o general dava àquele povo que tinha acabado de se render em uma guerra?
Ouçam com atenção:
- Ele dizia que a partir daquele instante eles poderiam deixar de ser inimigos de Roma para se reconciliarem com o Imperador e com o Império Romano;
- Eles também eram informados que o Imperador não queria o seu mal, e os chamava para a reconciliação por meio do arrependimento. Isso mesmo, eles usavam a palavra “arrependimento” (!) que, como sabemos, quer dizer “mudança de atitude”;
- Caso se arrependessem e se reconciliassem, aceitando o governo de Roma sobre as suas vidas, eles:
- Não seriam punidos por sua rebelião, ou seja, seriam perdoados!
- E, além disso, teriam acesso a todas as boas coisas de quem pertencia ao Império Romano, principalmente proteção e cuidado!
Que tal? Notícias boas, heim? Vocês já ouviram alguma coisa parecida? Vamos ler 2 Coríntios 5 do vers. 18 ao 21. É parecido ou não?
Gostaria que recordássemos, juntos, três verdades que conhecemos bem:
- De acordo com Gênesis 1.27-28, Deus deu a autoridade da terra ao ser humano;
- Ao se rebelar contra Deus e pecar, o homem perdeu essa autoridade e ela passou a ser de satanás. Por isso Jesus se referiu a ele, por mais de uma vez, como o “príncipe deste mundo” (João 12.31; 14.30). A palavra traduzida no português como “príncipe” é, em grego, “archon” e significa governador, comandante, chefe, líder;
- Por meio de sua morte na cruz e ressurreição, Jesus venceu e derrotou o diabo. O antigo “príncipe” foi julgado e destronado do seu posto. Desde então este mundo passou a ter um novo “archon”, um novo governante, o Rei Jesus! Vamos abrir e ler juntos Colossenses 2.15. Irmãos, cabe um “GLÓRIA A DEUS! ”aqui?
Nessa condição de novo soberano da terra Jesus disse aos seus discípulos:
Toda autoridade me foi dada. Portanto, vão! Preguem o evangelho a toda criatura e façam discípulos dos que crerem, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do E. Santo, e ensinando-os a guardar todas as coisas que eu ordenei a vocês.
Com essas palavras o novo governante enviou o seu exército, a igreja, por todo o antigo território inimigo (a terra), assim como Roma enviava os seus. Qual a nossa missão? Conquistar para Ele aqueles que ainda estão prisioneiros do império das trevas (Colossenses 1.13). Como? Fazendo com que a boa notícia da vitória de Jesus sobre o pecado e a morte seja conhecida de todas as pessoas e chamando-as à reconciliação com Deus para serem libertadas da escravidão do pecado e perdoadas!
Passemos agora para os aspectos práticos desta nossa reflexão:
a) Como deve ser o anúncio, do que devemos falar?
Um general romano sabia exatamente o que deveria dizer quando estivesse falando aos habitantes de uma cidade. Nós também precisamos saber o conteúdo da mensagem que nos foi confiada, e saber com segurança! Em seguida vou descrever o que tenho aprendido e praticado nos últimos meses.
Algumas vezes me aproximo das pessoas perguntando se querem oração por alguma causa. Normalmente faço isso quando estou usando uma camisa que tem os dizeres “Posso orar por você? “. Embora alguns recusem, a maioria aceita. Depois de orar, eu passo a dizer que Deus está chamando as pessoas para se reconciliarem com ele e uso a passagem de 2 Co. 5.18 em diante. Quando não estou usando essa camisa eu me aproximo e pergunto:
“― Você sabia que Deus está chamando as pessoas para se reconciliarem com ele? “.
Num caso e no outro, eu prossigo dizendo que Deus não quer o mal de ninguém. Afirmo que Ele decidiu não colocar os nossos pecados na nossa conta, embora todos nós merecêssemos ser duramente castigados por nossa rebelião e desobediência. Mas Deus nos ama tanto que preferiu enviar o seu Filho Jesus para ser punido em nosso lugar. Jesus recebeu o castigo que era nosso (Isaías 53.5-6, 10-11)!
Digo, ainda, que a morte de Jesus foi aceita por Deus e foi suficiente para pagar pelos pecados de todas as pessoas (Hebreus 10.12). Por isso Deus o ressuscitou dos mortos. Além disso, Jesus recebeu poder e autoridade para perdoar pecados e salvar totalmente (Atos 4.12; Hebreus 7.25)!
Finalizando, afirmo que agora Deus convoca todos para se arrependerem e se reconciliarem com Ele: todo aquele que renunciar ao governo de sua vida (Marcos 8.34-35) e se colocar debaixo do governo de Jesus será perdoado e salvo, e se tornará um filho (a) de Deus!
Queridos irmãos e irmãs, certamente essa mensagem pode ser aperfeiçoada, mas é assim que tenho procurado falar para entregar a boa notícia. Amém?
b) A mensagem não pode ser distorcida
Nem diminuída, nem aumentada. Nossa missão e nossa responsabilidade é entrega-la fielmente. Um carteiro que abre as cartas e altera o conteúdo será demitido se for pego, e poderá ser preso. Mas, às vezes, nós adulteramos o conteúdo da mensagem. Por vergonha, ou medo de sermos rejeitados, queremos “torna-la melhor” para as pessoas. Não é verdade? Ou só aconteceu comigo? Quem já fez isso alguma vez?
Vejam como isso é uma grande bobagem, para não dizer uma loucura: nós queremos ver as pessoas convertidas, não é verdade? Pois bem: apenas o verdadeiro evangelho pode gerar fé verdadeira, a fé que leva ao arrependimento e à salvação!
Irmãos, nós podemos entregar folhetos e falar do amor, da bondade, da graça e da misericórdia de Deus. Podemos dizer às pessoas “― Jesus te ama! “ ou “― Deus tem um plano para a sua vida! “. Podemos nos oferecer para orar por elas e perguntar por suas necessidades.
Todas essas são maneiras válidas de nos aproximarmos das pessoas e iniciarmos a conversa. Mas se ficarmos apenas nisso não estaremos sendo fiéis à mensagem, não estaremos pregando o evangelho!
c) A condição não pode ser mais forte do que a Boa Notícia
Esse é o outro lado da moeda. O tópico anterior trata das situações em que alteramos a mensagem procurando “aliviar” o seu conteúdo. Outras vezes, no entanto, por receio de “enfraquecer” o evangelho, nós falamos muito pouco da boa notícia e logo passamos a pregar as condições: negar a si mesmo, tomar a cruz, renunciar a tudo quanto tem e perder a vida. Quem já fez assim?
Ora, essas são as condições para quem quer ser discípulo, mas a condição não gera fé! O que gera fé é a boa notícia da oferta do perdão dos pecados e da reconciliação com Deus por meio da morte e ressurreição de Jesus. Vamos abrir Romanos 10 e ler os versos 13-15.
Entenderam? Devemos entregar fielmente o evangelho, a boa notícia, e chamar as pessoas ao arrependimento para a reconciliação com Deus. Aos que quiserem essa reconciliação falaremos das condições. Amém?
d) Devemos gastar tempo com quem tem sede
Para quem está cansado e sobrecarregado a mensagem do evangelho do Reino – incluindo as condições – é a melhor notícia que poderiam ouvir!
São essas as pessoas que estamos procurando, os sedentos. Elas têm fome e sede de Deus, e estão à procura de alívio e de um sentido para a vida. Normalmente estão cheias de problemas, sejam problemas visíveis ou angústias da alma.
Torben Sondergaard (Dinamarca) as chama de “homens e mulheres de paz”. Como não sabemos quem são e nem onde estão, precisamos pregar a todos, como ordenou Jesus. Mas estamos à procura dos sedentos! Por isso, quando encontramos alguém com sede devemos dedicar a essa pessoa todo o tempo que for necessário!
Porém, algumas vezes saímos para evangelizar e nossas atitudes parecem indicar que queremos trabalhar por produção. Sabe como é trabalhar por produção na evangelização? Agimos como se nossa motivação fosse encher o caderno (ou a agenda do celular) de nomes e telefones dos “contatos”. Então, como estamos com essa “motivação oculta”, ao encontrar alguém com sede dedicamos pouco tempo a essa pessoa. Depois de uma pequena conversa anotamos nome e telefone e logo queremos ir para o próximo “contato”. Novamente vocês podem ser sinceros: já aconteceu com alguém aqui, ou foi apenas comigo?
UM GRANDE EXEMPLO: PAULO EM ATENAS
Há na Bíblia um exemplo maravilhoso de todos esses aspectos práticos sobre os quais conversamos até aqui. Vamos ler Atos 17.22-34. Agora, atentem para o seguinte. Paulo:
- Inicia fazendo referência a um tema conhecido de todos eles, um ídolo (22-23);
- Declara a soberania e o poder de Deus (24-28);
- Fala da bondade e misericórdia de Deus e de sua disposição em perdoar pecados e chama os ouvintes ao arrependimento e à reconciliação com Deus por meio de Jesus (30-31);
- Fala da ressurreição de Jesus e do seu poder e autoridade (31);
- Também não leva em conta a rejeição da maioria das pessoas, porque está à procura dos sedentos, dos “homens de paz” (32-33);
- E, por fim, ele gasta tempo com os que creem na mensagem e se aproximam (34);
Uma última observação: Paulo não cita nenhum texto das Escrituras e não faz referência à nenhuma das antigas promessas de Deus, ao contrário de Pedro no dia de Pentecostes (e em outras situações com os judeus) e do próprio Paulo quando pregava para os judeus nas cidades em que passava. Por que? Porque sua audiência naquele dia era de pessoas para quem as Escrituras eram totalmente desconhecidas.
É claro que posteriormente ele ensinou aos que se converteram. Suas cartas são a prova disso. Mas naquele momento ele estava lançando a semente, procurando pelos sedentos.
Por isso trago algo para refletirmos: será que precisamos falar da cricrilação, da queda, de Abraão e sua descendência, da história de Israel e de temas semelhantes quando estamos pregando o evangelho? Meditem nestas coisas!
Sugiro que vocês leiam algumas vezes, com calma, em oração, essa experiência de Paulo em Atenas. É a única descrição detalhada no Novo Testamento de uma pregação em que todos os que estavam ouvindo não tinham nenhum conhecimento das Escrituras. Por que estou dando essa orientação? Porque, na maioria das vezes, é isto o que ocorre quando evangelizamos.
Vamos orar!
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