Paulo, plantador de Igrejas.

A igreja americana “Catedral da Esperança,” em Dallas, Texas, é uma das maiores igrejas da denominação Comunidade de Igrejas Metropolitanas dos Estados Unidos e está entre as que mais crescem na América, com uma média de 1600 pessoas, nos domingos pela manhã, na Escola Dominical. Isto a coloca na faixa de 1% das igrejas nacionais que têm mais de 1.000 membros. O pastor da igreja, Michael Piazza, já está se queixando de que o espaço é pequeno e deseja comprar um novo prédio. Surpreendentemente, trata-se de uma igreja que atende a população homossexual e lésbica. Piazza deseja tornar a Catedral numa “catedral psicológica,” que venha servir como o centro espiritual mundial dos homossexuais e lésbicas cristãos.(1)

Estou citando este caso para exemplificar que é perfeitamente possível fazer uma igreja local crescer sem que isso tenha algo a ver com a doutrina bíblica correta. É possível provocar a expansão de um organismo eclesiástico, sem que essa expansão seja necessariamente o resultado de uma visão correta das Escrituras ou de uma perspectiva correta acerca da obra missionária da Igreja. A separação entre teologia e missões tem causado graves problemas à Igreja de Cristo no mundo. Até algum tempo atrás, missões era o resultado inevitável de uma teologia baseada na Palavra de Deus. Vemos isto na vida e obra do grande missionário batista William Carey, que viveu no século passado. Carey era um calvinista ardoroso, que tinha um coração inflamado por missões e não podia compreender a obra missionária como outra coisa senão a extensão das suas convicções como crente no Senhor Jesus.(2) A teologia da Sociedade Missionária de Londres que ele fundou tem sido descrita como “… em todos os sentidos … um evangelicalismo com forte inclinação calvinista.”(3) Ian Murray menciona que no culto de abertura da Sociedade, Rowland Hill, um dos pregadores, reconhecendo o esforço missionário dos seguidores de João Wesley, desejou-lhes entretanto “uma melhor teologia.”(4) Mais recentemente, ao escrever a introdução de uma obra contendo artigos de vários autores reformados sobre crescimento da igreja, Harvey Conn declara que “os autores permanecem convencidos de que a pregação e a aplicação da teologia da graça soberana produzirá muito fruto na igreja mundial em crescimento. As igrejas da Coréia e da Nigéria dão um testemunho atual sobre isso.”(5) Mas infelizmente a separação entre teologia e missões tem penetrado nas igrejas e organizações missionárias no período moderno, e tem produzido efeitos perniciosos até o dia de hoje.(6)

A afirmação de Michael Green de que “quase todo teólogo não gosta de evangelização e quase todo evangelista não gosta de teologia,”(7) é mais verdadeira, infelizmente, do que desejaríamos. Toda reflexão teológica deveria desembocar em subsídios para o esforço expansionista da Igreja de Cristo. Esses esforços, por sua vez, nada mais podem ser do que teologia em ação. Na verdade, quando a nossa prática missionária não é fertilizada e controlada por uma reflexão teológica correta, ela acaba se tornando em ativismo, desempenho estilizado ou simplesmente uma aplicação frenética de métodos.

Desejo propor neste artigo que na atividade do apóstolo Paulo como plantador de igrejas nós encontramos esta combinação de teologia com visão missionária. Gostaria de tomar Paulo como modelo (poderia tomar o Senhor Jesus ou um outro apóstolo) pois é o que ele fez e escreveu que deve servir como nosso referencial _ e não teorias modernas baseadas no pragmatismo americano. Em seus labores vemos como a teologia e o desejo de fazer a Igreja crescer encaixam-se harmoniosamente.

Merecidamente, Paulo passou para a história não somente como o maior teólogo do cristianismo, mas também como o seu maior missionário. Como sabemos, o cristianismo nasceu judeu. O seu fundador era judeu, o cristianismo nasceu em uma cidade judia, a capital do judaísmo, seus primeiros apóstolos eram todos judeus e sua mensagem era proclamada em referência aos escritos dos judeus. Poucos anos após a morte do apóstolo Paulo, o Império Romano reconhecia o cristianismo como um fenômeno gentílico. Para que tenhamos uma idéia do labor do apóstolo Paulo como fundador de igrejas, em menos de dez anos, entre os anos 47 e 57, ele plantou igrejas em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia proconsular. Depois de dez anos plantando igrejas, ele escreve aos romanos que já não tem campo de atividade naquelas regiões (Rm 15.23). Paulo passa para a história, então, como uma combinação de teólogo profundo e missionário fervoroso.

I. As Motivações de Paulo

O que motivava o apóstolo Paulo a sair plantando igrejas, organizando comunidades ao longo da bacia do Mediterrâneo, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava motivado por suas convicções teológicas. Sua ação missionária era resultado dessas convicções. E elas eram de tal natureza que impeliam o apóstolo a ir ao mundo para proclamar o Evangelho e plantar novas igrejas. No que se segue, gostaria de destacar algumas dessas convicções que considero vitais para a nossa compreensão do tema deste artigo.

A. Os Últimos Dias já Começaram

A primeira dessas convicções é que Paulo estava vivendo nos últimos dias, dias de cumprimento, em que os fins dos séculos haviam chegado (1 Co 10.11). Seus dias eram um período momentoso da história da humanidade, em que todas as antigas promessas de Deus estavam sendo cumpridas através da vida e obra de Jesus de Nazaré. Ele estava persuadido de que a era escatológica, prometida pelos profetas, havia raiado pouco antes de sua conversão, que a plenitude do tempo havia se consumado com a vinda do Filho de Deus em carne (Gl 4.4; Ef 1.10), que o reino de Deus havia irrompido na pessoa de Cristo, que em Cristo Jesus a redenção agora se anunciava a todos os homens (2 Co 6.2b: “eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação”) e a nova criação tinha início (2 Co 5.17).(8)
Não somente isto. Ele mesmo havia sido alcançado pelos efeitos do período em que vivia. Ele, que antes era perseguidor do cristianismo, havia sido alcançado pela graça de Deus e tornara-se um defensor do que antes procurava destruir. Havia experimentado em sua alma o poder da nova era que havia se iniciado em Cristo Jesus (1 Tm 1.12-15). Mais ainda, Paulo estava plenamente convencido de que outras promessas e profecias, além daquelas referentes à vinda do Messias, estavam igualmente se cumprindo: (1) A restauração e a reconstrução de Israel através do remanescente fiel do qual os profetas freqüentemente falaram, que eram os israelitas que criam em Cristo (Romanos 9); (2) A vinda de todos os povos para adorarem a Deus, antecipada pelos antigos profetas. Paulo percebia o cumprimento daquelas promessas diante de seus próprios olhos, através do seu ministério, pela entrada dos gentios na Igreja de Cristo (cf. Rm 15.9-21).
Assim, Paulo compreendia sua época como o início de um tempo especial da história, em que Deus estava consumando o seu plano de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão no céu como as que estão na terra (Ef 1.10). Não podemos perder de vista essa perspectiva, porque está presente em todo o pensamento de Paulo e influencia decisivamente a sua atividade como plantador de igrejas.

B. A Igreja é a Plenitude de Cristo

A segunda convicção do apóstolo Paulo era que as antigas promessas de Deus encontravam concretização histórica na Igreja de Cristo. Era na Igreja que a restauração de Israel, profetizada nas Escrituras do Antigo Testamento, se consumava. Era na Igreja que a plenitude dos gentios estava entrando. Por isso Paulo fala da Igreja como sendo a plenitude de Cristo (Ef 1.23). É por isso que ele fala da Igreja como sendo um novo homem, uma nova criação, feita de judeus e gentios, o remanescente fiel de Israel e dos gentios, que agora está sendo trazido à obediência de Cristo Jesus (Ef 2.15; 4.24; Cl 3.10).
Esse entendimento de Paulo sobre a Igreja como comunidade escatológica o levava a sair plantando igrejas locais. Tal atividade era uma conseqüência de como ele entendia a Igreja. Não era um mero ativismo: plantar igrejas por plantar igrejas. Ele não podia fazer outra coisa porque entendia exatamente o que era ser Igreja. Era na Igreja que as antigas promessas encontravam plena consumação.

2. Consciência do Chamado Divino para Edificar a Igreja

A terceira convicção de Paulo era que Deus o havia chamado para edificar essa Igreja. O apóstolo reflete essa persuasão freqüentemente em seus escritos. A linguagem de edificação está presente em quase todos os seus escritos, e está relacionada com o conceito da Igreja como a “casa,” o “edifício,” o “templo” de Deus (cf. 1 Tm 3.15; 1 Co 3.9; Ef 2.21; 1 Co 3.16; Ef 2.21). A palavra edificação e o verbo edificar aparecem freqüentemente quando Paulo fala do crescimento da Igreja (cf. 1 Co 3.10,12; Gl 2.18; Ef 2.22).
Paulo vê a Igreja como uma edificação cujo fundamento é o próprio Cristo (1 Co 3.11), conceito que tem origem nas palavras do próprio Senhor Jesus, quando disse a Pedro: “… e sobre esta pedra [a confissão de Pedro de que Jesus era o Cristo] edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). Paulo tinha consciência de que Cristo o havia chamado para ser um instrumento pelo qual essa edificação ocorreria.

a) Edificação como Expansão

É importante observar que Paulo usa o termo edificação e seus derivados em dois sentidos relacionados, porém distintos:
Algumas vezes, quando fala de “edificação” da Igreja, Paulo está se referindo à sua expansão. Isso fica claro em Romanos 15.20, onde declara que seu alvo é anunciar o evangelho aonde Cristo não fora ainda ouvido, “para não edificar sobre fundamento alheio.” Por isso, quando ele fala em “edificação” temos de lembrar que existe esta dimensão de expansão, de crescimento, de adição. Tal expansão ocorreria à medida em que a plenitude dos gentios, conforme as antigas promessas, fosse entrando na Igreja de Cristo (Rm 11.23). O alvo de Paulo, portanto, era edificar a Igreja pela obra de expansão missionária. É neste sentido que ele chama a si mesmo de “construtor,” ao falar aos coríntios sobre a sua estada naquela cidade e a plantação da igreja ali: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor [arquiteto, no grego]; e outro edifica sobre ele” (1 Co 3.10). Para Paulo estava claro que seu trabalho como arquiteto, como edificador, era lançar os fundamentos da Igreja para sua expansão. É por isso que ele fala: “outro edifica sobre ele” (v.10).

b) Edificação como Fortalecimento

Mas há um outro sentido paralelo, que anda junto com esse sentido de expansão, e que por vezes tem sido ignorado nos nossos planos de fazer a igreja crescer. Para Paulo a edificação da Igreja não somente era um avanço numérico, mas era igualmente o fortalecimento daqueles que já haviam “entrado.” É neste sentido que ele usa o verbo edificar em Efésios 4.12. Na passagem, o apóstolo ensina que o Senhor glorificado concedeu dons à Igreja com o objetivo de aperfeiçoar os santos para que desempenhem seu serviço, isto é, para a edificação do corpo de Cristo. O contexto da passagem deixa claro que Paulo não está falando de extensão (embora também mencione o dom de evangelista), mas de fortalecimento. Talvez possamos dizer que não há uma distinção rígida no pensamento de Paulo _ e nem em sua prática _ entre o fazer a Igreja se expandir e o enraizá-la, fundamentá-la e fortificá-la. São duas coisas que andam juntas na obra do apóstolo. Era assim que ele entendia a sua vocação. O seu apostolado consistia não somente em plantar igrejas (edificação como expansão) mas em firmá-las e fundamentá-las (edificação como fortalecimento).

Há um outro aspecto importante a ser notado: Paulo não via qualquer contradição entre a atuação soberana de Deus em fazer a Igreja crescer, e a sua responsabilidade de empregar todos os esforços possíveis para isto. Em 1 Coríntios 3.5-9, onde fala do seu trabalho apostólico em Corinto, ele diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus.” Crescimento abrange não somente o plantar, mas o regar, e os resultados advindos daí. E esse crescimento, diz Paulo, vem de Deus. Ao final de sua terceira viagem missionária, escrevendo aos romanos, o apóstolo faz uma retrospectiva do seu trabalho durante aqueles anos:

Não ousarei discorrer sobre cousa alguma senão daquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavras e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças, até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15.18-19).
Aqui vemos como Paulo atribui a Cristo o poder, a energia e o crescimento da Igreja; enfim, o resultado dos seus labores. Paulo tinha plena consciência desse fato. Em certo sentido, podemos dizer que missões é obra de Deus; começa em Deus, continua com ele e termina nele. Alguns estudiosos de missões têm sugerido que devemos falar, não em missiologia e sim em missiodeologia. Missões é exatamente a atuação de Deus neste mundo perdido, implantando o seu reino e trazendo para dentro dele aqueles que ele quis.

É extremamente importante observar que a consciência deste fato não se constituía em um empecilho para que Paulo saísse plantando igrejas. Nunca houve, talvez, uma pessoa que se esforçasse tanto para fazer a Igreja crescer. William Carey, o missionário calvinista que no século passado plantou 26 igrejas na Índia e traduziu parte das Escrituras em 34 das línguas faladas naquele país, disse:

Nós temos certeza de que somente aqueles que foram destinados à vida eterna crerão, e que somente Deus pode acrescentar à Igreja aqueles que serão salvos. Entretanto, vemos com admiração que Paulo, o grande campeão das gloriosas doutrinas da graça livre e soberana, foi o mais destacado em seu zelo pessoal de persuadir os homens a se reconciliarem com Deus.(9)

Ao mesmo tempo em que o apóstolo Paulo tinha plena consciência de que missões, plantação e crescimento de igrejas era uma obra divina, ninguém mais do que ele esforçou-se para persuadir as pessoas a entrarem no reino de Deus. Ele labutou ardorosamente, gastou-se de forma sacrificial para edificar a Igreja de Cristo, tanto na sua expansão como na sua fundamentação.

Em Paulo vemos a conjugação da convicção plena na soberania de Deus e da responsabilidade da Igreja de anunciar o Evangelho ao mundo. Por vezes essas duas coisas têm sido divorciadas na nossa prática e reflexão missiológica. Porém, ambas têm de estar presentes. A crença plena na absoluta soberania de Deus, na doutrina da predestinação, de que Deus tem os seus eleitos, longe de ser um obstáculo para a evangelização e plantação de igrejas é na verdade a única base genuína que podemos ter para persuadir os homens. Caso Deus não houvesse elegido milhares e milhares para a vida eterna, os nossos esforços seriam em vão. Melhor seria se “ficássemos em Jerusalém.” Mas, exatamente porque Deus tem os seus eleitos é que saímos ao mundo em plena convicção, persuadindo os homens e orando, na expectativa de que através de nosso ministério, Deus estará operando e chamando os gentios e fazendo com que sua plenitude venha.

3. A Proclamação das Boas Novas como Instrumento de Edificação da Igreja

Paulo estava totalmente convencido de que a edificação da Igreja, para a qual ele havia sido chamado, acontecia pela proclamação das boas novas e pela organização em igrejas locais daqueles que aceitavam as boas novas. Tal processo continuaria a ocorrer até que a plenitude dos gentios entrasse.

Isso ocorreria através da proclamação das boas novas. Deus haveria, através do Evangelho, de reunir os gentios, o remanescente fiel de Israel. No livro de Atos, freqüentemente, o crescimento da Igreja é descrito como sendo a multiplicação da Palavra, ou ainda, o crescimento da Palavra de Deus (At 6.7; 12.24; 19.20). Para a Igreja apostólica e, em particular, para o apóstolo Paulo, as duas coisas andavam juntas. Era pela Palavra de Deus que a Igreja seria edificada em ambas as dimensões, tanto a sua expansão quanto o seu fortalecimento. Paulo fala do seu ministério como sendo para dar pleno cumprimento à palavra de Deus (Cl 1.25). Todas as vezes que ele se refere ao seu chamado ao apostolado, ocorrido na estrada de Damasco, sempre fala como tendo recebido uma comissão divina para dar testemunho do Evangelho de Cristo, para anunciar diante dos reis, autoridades e diante de todos os homens as boas novas da redenção em Cristo Jesus.

Estas eram as convicções que levaram Paulo a plantar igrejas. Um homem dominado por estas convicções não pode fazer outra coisa, não tem outro método, outro anseio na vida. Evangelização, missões, plantação e edificação de igrejas tenderão a brotar naturalmente de uma Igreja que tenha tais convicções claras diante de si. É interessante ver que, nas cartas que ele escreveu para as igrejas, praticamente não há exortação a elas para que evangelizem. Paulo não precisava “chicotear” as igrejas que ele havia fundado, para se engajarem no trabalho missionário. Aparentemente, era algo que elas faziam normalmente. É verdade que ocasionalmente Paulo as convida a se juntarem a ele em seu trabalho de expansão do Reino. Mas ele não precisa fazer campanhas especiais para que elas concorressem.

A questão se Paulo tinha um alvo quantitativo, em sua estratégia de plantação de igrejas, é bastante relevante em nossos dias. O estabelecimento de alvos numéricos como parte da estratégia de crescimento de igrejas tem levantado muita polêmica. Creio que Paulo tinha um alvo quantitativo, mas não numérico. O alvo que ele pretendia alcançar com seu trabalho missionário não podia ser expresso em um número qualquer. Paulo tinha como alvo nada menos que “a plenitude dos gentios.” Seu propósito era alcançar o maior número possível. Ele sabia que estava vivendo em uma época em que Deus estava trazendo os gentios à Igreja. Ele disse: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios” (Rm 11.25). O alvo de Paulo, portanto, era que essa plenitude viesse. Equacionar a visão missionária de Paulo em termos de números seria ignorar a grandeza de sua visão. Ele almejava alcançar o maior número possível, para que assim a plenitude dos gentios entrasse na Igreja de Cristo: “… fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (1 Co 9.19). O alvo de Paulo era o mundo, os gentios, o remanescente fiel, o maior número possível de eleitos, onde os pudesse encontrar. Essa visão, impossível de ser medida em números, fazia parte da motivação de Paulo em sair plantando igrejas ao longo do seu ministério. Não estou dizendo que o crescimento numérico da Igreja é irrelevante. O livro de Atos deixa claro que a igreja cresce, e que este crescimento pode ser expresso em termos estatísticos.(10) Apenas não estou convencido de que esse fato seja suficiente para adotarmos a prática de projetarmos alvos numéricos para crescimento da Igreja em nosso planejamento.

Como as Convicções de Paulo Determinavam sua Atuação

A atividade missionária de Paulo era resultado direto da sua teologia. Movido por tais persuasões, o apóstolo desencadeou o maior esforço de implantação de igrejas de que temos notícia.

A. Escolha dos Centros Estratégicos

Paulo percorria as estradas romanas anunciando o Evangelho e organizando os discípulos nas principais cidades das províncias imperiais, que eram centros estratégicos. Ele estava movido pela urgência da convicção de que o reino de Deus havia raiado e a vinda do Senhor Jesus era iminente, de que o Evangelho deveria ser pregado a todas as nações e ele tinha pouco tempo para fazer isso. Então, ele concentrou suas atividades nesses pontos estratégicos do Império Romano. Tessalônica tornou-se a base missionária para a província da Macedônia; Corinto a base para a província da Acaia; e Éfeso, a sua base para a Ásia proconsular.(11)

Seu objetivo era alcançar o maior número possível. Paulo queria ver a plenitude dos gentios, o número total dos eleitos ser arrebanhado na Igreja, se possível, durante sua vida. Às vezes, o apóstolo trai essa sua esperança quando fala da vinda do Senhor: “nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados…” (1 Ts 4.17). Ao incluir-se entre os que estariam vivos por ocasião da parousia, Paulo revela sua expectativa de que, ainda durante os seus dias, ele veria a plenitude dos gentios entrar na Igreja, como os ramos enxertados na oliveira. Ele almejava por isso; era esse o seu alvo.

B. Proclamação da Palavra de Deus

O método de Paulo nesses centros era proclamar, no poder do Espírito, as boas novas de que Deus havia cumprido em Cristo as antigas promessas feitas aos judeus, de mandar um Salvador ao mundo. Era pela proclamação da Palavra que Deus haveria de edificar a sua Igreja. Escrevendo aos crentes de Roma, de quem também pretendia receber apoio para seus planos de ir até a Espanha, o apóstolo faz uma relação entre a pregação do Evangelho e a salvação dos gentios:

Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo… Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Rm 10.18, 13-15).

Paulo foi perfeitamente consistente com a sua convicção de que aprouve a Deus salvar os que crêem pela “loucura da pregação.” Escrevendo aos coríntios ele diz: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco… decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado… A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.1-4). Se Paulo quisesse, poderia ter falado de outras coisas. Ele era um dos homens mais cultos da sua época. Porém, propositadamente rejeitou qualquer outra coisa que não o Cristo crucificado como tema da sua proclamação. Esse era invariavelmente o seu método, quer num ambiente em que a Palavra de Deus fosse conhecida (nas sinagogas), ou quando era convidado para estar no meio de filósofos gregos, que não tinham qualquer conhecimento prévio das Escrituras. O seu método era sempre anunciar a Cristo.

Nesse sentido, Paulo considerava-se um pregador e mestre. Ao escrever a Timóteo, ele diz que Deus o chamou para ser “pregador, apóstolo e mestre” (2 Tm 1.10-11). J. I. Packer, comentado sobre a teologia missionária e o método de Paulo, diz que não podemos separar o Paulo “evangelista” do Paulo “mestre.” Para o apóstolo, as duas coisas andavam juntas, ao ponto de se confundirem. Ele não podia evangelizar sem ensinar e não podia ensinar sem evangelizar. A isso Packer chama de “pregação educativa.”(12)

Vemos este ponto claramente no ministério de Paulo em Tessalônica. Segundo alguns os estudiosos, Paulo passou apenas três a cinco meses naquela cidade. Sua saída abrupta deveu-se à perseguição dos judeus. Ao sair da cidade, o apóstolo deixou atrás de si uma igreja de novos convertidos, que eventualmente foram também perseguidos. Algum tempo depois, estando em outras regiões, Paulo recebeu notícias de que os convertidos de Tessalônica estavam firmes, fundamentados, e que não abandonaram a verdade do Evangelho, a despeito das perseguições e dificuldades que enfrentaram após a saída de Paulo. Ao escrever-lhes pela primeira vez, Paulo os considera como igreja modelo. É a única igreja do Novo Testamento que recebe dele esta recomendação: “…vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia” (1 Ts 1.7).

A igreja de Tessalônica era realmente extraordinária. Haviam ficado sem pastor por três meses após sua fundação. E isso num ambiente hostil. Entretanto, estavam fazendo a Paulo perguntas relacionadas com escatologia! (cf. 1 Ts 4.13-18). Um outro aspecto interessante é que Paulo, ao começar sua carta, vai logo falando de predestinação: “…reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (1 Ts 1.4). Parece totalmente anti-didático, pelos padrões modernos dentro de algumas igrejas evangélicas. Na segunda carta, escrita não muito tempo depois, ele fala da eleição de Deus em termos ainda muito mais claros (cf. 2 Ts 2.13).

Que tipo de pregação produz convertidos dessa qualidade? A resposta está em Atos 17, onde temos narrada a fundação da igreja. Lemos ali que Paulo foi inicialmente à sinagoga, e “por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos…” (v. 2, 3). Estas três palavras usadas por Lucas para patentear a pregação de Paulo (arrazoar, expor e demonstrar) revelam como o apóstolo anunciava o Evangelho.(13) Arrazoar significa discutir, debater, argumentar com o objetivo de convencer _ parece que era a prática invariável de Paulo, não somente entre os judeus (cf. At 17.17; 18.4,19; 19.8), mas até mesmo perante governadores romanos (At 20.9). Expor significa abrir alguma coisa. É a mesma palavra que Lucas usa para dizer que o Senhor abriu o entendimento de Lídia para compreender o que Paulo estava falando (At 16.14). Expor as Escrituras significa expor a sua mensagem, revelar o seu conteúdo. Demonstrar significa, entre outras coisas, colocar ao lado. É usado para alimentação (Lc 11.6) e no sentido de fornecer evidências, provar alguma coisa, talvez por comparação, colocando uma coisa ao lado de outra. Era isto o que Paulo fazia: “Aqui estão as promessas das Escrituras, que vocês conhecem bem, e aqui está Jesus de Nazaré. Comparem as duas coisas!” Assim ele demonstrava que Jesus era o Cristo.

Nesse aspecto, o evangelista confundia-se com o mestre. Plantando igrejas entre os judeus, o apóstolo tinha de oferecer respostas convincentes a questões polêmicas:

  1. Se Jesus é o Messias, qual o lugar da Lei de Moisés no plano de salvação?
  2. Se a salvação é pela graça, porque Deus outorgou os Dez Mandamentos?
  3. Se Jesus é o Messias, por que a nação de Israel o rejeitou?
  4. Qual o valor da circuncisão, das leis alimentares e do calendário judaico para os judeus que se tornavam cristãos?

Paulo tinha de resolver todas estas questões no seu labor missionário. O que quero dizer é que Paulo, o plantador de igrejas, era inevitavelmente Paulo, o expositor. Não podemos separar as duas coisas, especialmente numa época como a nossa. Vivemos num país cujo povo considera-se cristão mas é ignorante das Escrituras. Segundo uma pesquisa feita pela revista Veja, 98% dos brasileiros dizem acreditar em Deus. Porém, se formos perguntar-lhes “quem é Deus,” evidentemente teremos as respostas mais estranhas possíveis. Vivemos num ambiente de quase total ignorância bíblica. Por esse motivo, entre outros, não podemos apelar às pessoas para que tomem decisões imediatas por Cristo, sem que antes argumentemos, exponhamos e abramos o sentido das Escrituras para elas. Não podemos sair plantando igrejas às pressas e ainda querer resultados profundos e duradouros. Há todo um trabalho de ensino, de doutrinação, de preparação que deve anteceder, ou, ao menos, caminhar conjuntamente com o trabalho de evangelização e plantação de igrejas.

Precisamos de evangelistas e plantadores de igrejas que sejam capazes de explicar, ensinar e instruir com paciência, para colher o fruto na hora certa. A precipitação pode causar resultados desastrosos. Donald McGavran narra em seu livro Understanding Church Growth o crescimento numérico extraordinário, nas décadas de 60 e 70, do número de decisões por Cristo na tribo Dani, do oeste da Nova Guiné. McGavran destaca especialmente que a queima dos fetiches feita em massa pelos Dani era algo espontâneo.(14) Porém, nem todos os missionários estavam entusiasmados. Alguns opuseram-se à prática, pois a queima de fetiches tinha sido iniciada por um padre católico que havia prometido vida eterna (nunca morrer aqui na terra) aos que fizessem isto.(15) Porém, diz McGavran, “felizmente os Dani sabiam o que iam fazer,” e a queima de fetiches continuou.(16) Em outra área da região dos Dani, uma outra missão tomou atitude diferente, conforme relatado nas palavras de Horne:

Milhares de “convertidos” poderiam ter sido batizados imediatamente após as queimas de fetiches. Isso porém teria produzido muitos falsos professos, que depois se desviariam das igrejas. Uma igreja sólida, fundamentada no conhecimento das Escrituras, era o alvo da missão. Portanto, diante da grande mistura de conversões verdadeiras e falsas, a Missão decidiu que ninguém seria batizado até que desse evidência em sua vida de que havia entendido os princípios da fé cristã, e que vivia de acordo com eles… Dos milhares que haviam se decidido por Cristo [e praticaram a queima de fetiches], somente oito Danis foram batizados em Keila, no domingo 29 de julho de 1962.(17)

Lembremos do labor do apóstolo Paulo, expondo, demonstrando, argumentando, persuadindo judeus e gentios pelas Escrituras. Era assim que ele plantava igrejas. E os seus labores deram resultados permanentes. Os seus convertidos foram capazes de suportar as perseguições, mesmo sem pastores para dar-lhes apoio.

Quando Paulo chegou a Atenas, ao sair de Tessalônica, estava em outro ambiente. Ali ele não começa com a exposição das Escrituras, mas começa com o monoteísmo, quando é convidado a falar no Areópago. O apóstolo começa ensinando quem é Deus, o que ele faz e como podemos servi-lo. E dessa forma, argumenta logicamente até chegar a Cristo e sua ressurreição. Era esse o seu método invariável. Era um evangelista-mestre! Não podemos separar estas duas coisas.

C. Organização de Igrejas Locais

Paulo organizava seus convertidos em comunidades, as igrejas locais. O seu objetivo era promover os meios pelos quais eles fossem edificados, instruídos, celebrassem a Ceia, cultuassem a Deus e se envolvessem no próprio projeto de expansão do cristianismo. Paulo os batizava, elegia presbíteros dentre eles a quem encarregava do rebanho (At 14.21-23), e depois de algum tempo voltava para supervisioná-los (At 15.36; 16.4-5; 18.23).
Aqui temos um ponto muito importante. O objetivo de Paulo não era apenas declarar ou anunciar o evangelho _ ele queria persuadir as pessoas, queria convencê-las, ganhá-las para Cristo, e após isto, organizá-las em igrejas e discipulá-las. Isso fazia parte de seu alvo maior, que era ver a Igreja de Cristo edificando-se pela expansão e fortalecimento. Paulo nos ensina com isso que não podemos ficar satisfeitos apenas com uma mera proclamação. Havemos de instar com os homens, persuadi-los, forçá-los (no sentido bíblico) a entrar no Reino de Deus. Nenhum dos que admiram pastores e evangelistas reformados como Richard Baxter, Joseph Alleine, George Whitefield, Jonathan Edwards e C. H. Spurgeon deixarão de concordar que é nosso dever oferecer livremente a todos os homens o Evangelho da graça de Deus, e instá-los a que se convertam de seus pecados e creiam no Evangelho.
Paulo também nos ensina que não devemos cair na missiologia do ativismo. Ele sabia que a sua comissão era edificar a Igreja universal de Cristo pela fundação de comunidades locais. Ao mesmo tempo, ele deixava os resultados dos seus labores nas mãos da providência divina. O crescimento, afinal, vinha de Deus.

Implicações Para Uma Filosofia de Plantação de Igrejas

A. Refletir Teologicamente Partindo das Escrituras

Penso que a lição mais importante que podemos aprender com Paulo é que não podemos separar teologia e missões. É prioritário que as igrejas reformadas hodiernas estudem e definam com clareza uma filosofia missionária que brote das Escrituras, que esteja comprometida com a doutrina reformada, com as doutrinas da graça, e que esteja atenta para a realidade brasileira. Creio que este é o ponto de partida. Não estou certo de que hoje, no Brasil, as igrejas reformadas tenham uma teologia missionária nesses termos. Percebemos um aumento significativo do interesse missionário por parte das igrejas reformadas, pelo que damos graças a Deus. Porém, não podemos, num entusiasmo inicial, precipitar-nos no pragmatismo característico dos nossos dias. Precisamos trabalhar os fundamentos teóricos. Isso não quer dizer que vamos parar o que estamos fazendo para primeiro resolver as questões teóricas todas. Podemos ir trabalhando, mas sempre abertos às mudanças em metodologia e estratégia que nos sejam sugeridas pela reflexão teológica profunda. Sem essa fundamentação conceptual corremos o risco de cair num mero ativismo, num “frenesi” de aplicação de métodos sem saber exatamente porque os estamos aplicando. Partindo dessas bases podemos refinar nossa metodologia e aplicá-la ao crescimento da Igreja. A Igreja não pode se deixar seduzir por propostas de crescimento fácil que se baseiam mais no pragmatismo do que no ensino das Escrituras.

B. Priorizar a Pregação Bíblica Expositiva

Podemos também aprender com o apóstolo Paulo que é através da Palavra de Deus que o Senhor edifica a sua Igreja e que uma ênfase redobrada deveria ser dada à preparação de obreiros que “manejem bem a Palavra da verdade” (2 Tm 2.15). O ponto principal é que devemos nos conscientizar de que os plantadores de igrejas precisam ter bom treinamento bíblico e teológico para que possam, desde o começo das novas igrejas, lançar fundamentos profundos que haverão de nortear as comunidades recém fundadas. É necessário, portanto, dar atenção aos institutos bíblicos que formam os evangelistas, aos seminários que formam os pastores, de forma que preparemos pessoas capazes de ensinar o evangelho e plantar igrejas sólidas em solo brasileiro. A pregação bíblica e expositiva é uma necessidade. Em que pese a cristianização do Brasil, o povo é em grande parte ignorante da história da Bíblia e dos seus ensinos. Plantadores de igrejas precisam ser pregadores-mestres, como Paulo. Em outras palavras, precisamos implantar na igreja e no campo missionário a pregação bíblica expositiva. Esse é um dos métodos que Deus mais vem honrando através dos séculos para fazer sua Igreja crescer. E continua a honrar hoje.

Este ponto fica reforçado pelos resultados de uma pesquisa recente, feita por Thom Rainer e sua equipe, entre 576 das igrejas que evangelizam mais eficazmente nos Estados Unidos. Rainer publicou os resultados sob forma de livro.(18) Ele admite que muita coisa foi como ele esperava, mas num capítulo intitulado “Dez Surpresas” ele fala de algumas descobertas inesperadas, pois num certo sentido vão de encontro a alguns conceitos popularizados pelo movimento de crescimento de igrejas. Destaco algumas dessas surpresas:

1. Das igrejas que mais crescem nos Estados Unidos, poucas usam eventos evangelísticos, como, por exemplo, campanhas evangelísticas com pregadores conhecidos e corais convidados. A maioria dessas igrejas considerou ineficaz a promoção desses eventos. Elas gastam muito dinheiro, recursos e tempo na preparação, e somente uns poucos dos que se decidem durante o evento acabam ficando e sendo batizados nas igrejas. Em geral, as igrejas que mais crescem são as que simplesmente mantêm sua programação regular de cultos.(19)
2. Ministérios durante a semana não são necessariamente eficazes para o crescimento da Igreja. Na maioria das igrejas que estão crescendo, o número maior de convertidos vêm dos cultos regulares, especialmente aos domingos. Alguns estudiosos têm defendido o que chamam de “igrejas de sete dias por semana,” que oferecem toda sorte de atividades à comunidade, como creches, escolas, e outros ministérios. Alguns até mesmo defendem que há estreita relação entre essas atividades semanais e o crescimento de igrejas.(20) A pesquisa de Rainer, porém, aponta na direção oposta.(21)

3. A evangelização tradicional está viva e “passando bem.” O antigo método de evangelismo porta-a-porta tem sido descartado por algumas autoridades em crescimento de igrejas como ultrapassado. Inesperadamente, a equipe de Rainer descobriu que a maioria das igrejas que crescem ainda se utilizam eficazmente desse método. Os líderes destas igrejas disseram que a resistência encontrada nas casas visitadas era a mesma de alguns anos passados. Mas o que importa, disseram, é que a igreja tem de obedecer ao “ide” de Jesus.(22)

4. A localização da igreja não é um fator decisivo no crescimento evangelístico das igrejas. Esta descoberta contraria um princípio central do movimento de crescimento de igrejas, que a localização é fator determinante na plantação de uma nova igreja. Rainer reconhece que uma boa localização oferece mais oportunidades para crescimento. Porém, a boa localização em si não garante o crescimento do número de conversões. Das igrejas entrevistadas pela sua equipe, nove dentre dez responderam que a sua localização não teve qualquer impacto decisivo no aumento de conversões. Igrejas mal localizadas, mas que tinham uma visão evangelística mais agressiva, apresentaram um número crescente de conversões.(23)

5. Uma multiplicidade de opções não melhora necessariamente a eficácia evangelística de uma igreja. Alguns livros de crescimento de igrejas têm caracterizado igrejas eficazes como do tipo “praça de alimentação,” que oferecem um leque amplo e variado de atividades para todos os gostos, como cultos mais tradicionais, cultos jovens, cultos mais informais, concertos, encontro de solteiros e viúvos, etc.(24) A igreja torna-se uma agenciadora de várias opções de atuação. Entretanto, a oferta de variedades não provoca necessariamente o crescimento evangelístico das igrejas, conforme os resultados da pesquisa de Rainer. Um bom número de líderes respondeu negativamente, pelo temor de que, no processo de contextualização dessas atividades, a igreja viesse a acomodar-se às demandas do mundo.(25)

Rainer resume o capítulo dizendo que as igrejas que têm sido melhor sucedidas em alcançar os perdidos são aquelas que têm focalizado no que é básico: pregação bíblica, oração, testemunho intencional, missões e treinamento bíblico na Escola Dominical. Essas igrejas rejeitaram toda metodologia que se desvia desses pontos fundamentais, e abraçaram as que os desenvolvem e aprofundam. Rainer conclui dizendo que um dos elementos fundamentais do evangelismo eficaz dessas igrejas era a pregação bíblica expositiva.(26)

Pesquisas como a de Rainer mostram que alguns dos fundamentos do movimento de crescimento de igrejas tão popularizado nos Estados Unidos vêm sendo questionados por um número crescente de estudiosos de missões.(27) Infelizmente, em que pesem as reivindicações de alguns defensores do movimento, os evangélicos dos Estados Unidos não têm experimentado um crescimento em número de conversões que venha validar os métodos empregados pela maioria das denominações. O Anuário das Igrejas Americanas de 1997 (1997 Yearbook of American Churches) traz os números do crescimento das 78 principais igrejas evangélicas dos Estados Unidos. Os números dessa fonte oficial não são encorajadores. Verificou-se que 190.420 igrejas locais registraram um aumento de 32.951 membros em 1996. A média é de menos de dois novos membros para cada cinco igrejas anualmente.(28) Esses números tornam-se ainda mais reveladores quando consideramos que mais de 80% das igrejas americanas têm menos de cem membros.(29) É bom lembrar que o movimento de crescimento de igrejas nasceu nos Estados Unidos e tem influenciado de modo prático a metodologia evangelística e missionária das principais denominações. Os números mostram que não está havendo crescimento global. Devemos nos perguntar se a ideologia e os métodos desse movimento americano funcionariam aqui no Brasil. Num artigo recente, dois missiólogos que fizeram estatísticas na América Latina apontam para o fato de que as igrejas pentecostais, que são as que mais crescem, surgiram por “combustão espontânea” e não como resultado de uma estratégia planejada das missões das principais denominações.(30) Não estou dizendo que não precisamos de planejamento e de estratégias para plantar igrejas no Brasil. Creio que Solano Portela já deixou claro que os reformados dão extrema importância ao planejamento eclesiástico estratégico.(31) Apenas destaco a necessidade de reafirmarmos os pontos básicos e valorizarmos o que vemos em Paulo, o plantador de igrejas.

Finalmente, podemos aprender com Paulo que nosso alvo em tudo isso é alcançar o maior número possível. Se tivermos de colocar um alvo em nosso planejamento estratégico de plantação de igrejas, deve ser este: até que a plenitude dos brasileiros haja entrado. É este o nosso alvo! Aprendamos com o apóstolo Paulo que plantação de igrejas é obra de Deus. Dependamos dele, orando e fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para persuadir os homens a entrarem no reino de Deus.

Augustus Lopes
Fonte: www.servindocomapalavra.com.br

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