O Que Ensinar? – Enfoque conceitual

Existe a ideia generalizada entre os cristãos de que o que temos que ensinar é toda a Bíblia. Certamente todos responderíamos “Amém” a esta declaração – pois toda Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar – no entanto, faremos muito bem em diferenciar o útil do indispensável.

Índice Geral:

O Ministério Didático da Igreja
O Que Ensinar? – Enfoque conceitual
O Que Ensinar? – Enfoque prático
Como Ensinar?
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Neste aspecto, em geral, tem havido muitas falhas:

  • Não se tem uma ideia global e integral do que é necessário transmitir.
  • Não existe um programa definido de ensino, ao contrário do que acontece em toda escola ou universidade. Cabe-nos aqui a exortação de Jesus: “os filhos deste século são mais prudentes na sua geração que os filhos da luz” (Lucas 16:8)
  • A improvisação semanal tem sido o mais freqüente, o que mais se faz: uma sucessão inconexa, indefinida e interminável de sermões que visão na maioria atingir o efeito imediato de uma boa reunião.
  • Com os textos da bíblia podem ser feitas combinações infinitas (como um caleidoscópio), e assim entreter por anos a congregação sem nunca poder dizer: “Já aprenderam tudo que precisam saber”.
  • À luz das verdades aprendidas nos últimos anos, podemos afirmar que muito do que ensinamos em anos anteriores era equivocado ou de conteúdo pobre e incompleto.
  • Em escolas dominicais, institutos bíblicos e seminários, os programas de estudo tem sido mais de informação do que de edificação, visando principalmente uma formação intelectual e acadêmica, e não uma formação de vida e de caráter (nos seminários, na matéria “Doutrina”, ensina-se Teologia Sistemática; isto significa que não existe clareza nem se quer sobre o que é doutrina)
  • Recordo que quando voltei do instituto bíblico e começamos uma obra num bairro, de todas as matérias que havia aprendido durante os quatro anos de estudo, não sabia concretamente o que ensinar ao grupo de pessoas que tinha se convertido.
  • No ano de 1974, nos encontramos com um grupo de pastores Buenos Aires para perguntarnos: CONCRETAMENTE, O QUE DEVEMOS ENSINAR A UMA PESSOA DESDE QUE SE CONVERTE ATÉ SUA MATURIDADE? Muito do que trataremos neste estudo tem a ver com o trabalho que se fez posteriormente a raiz desta pergunta.

Enfoque conceitual

1) Sagradas Escrituras e Palavra de Deus

Existe a ideia generalizada entre os cristãos de que o que temos que ensinar é toda a Bíblia. Certamente todos responderíamos “Amém” a esta declaração – pois toda Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar – no entanto, faremos muito bem em diferenciar o útil do indispensável.

A Bíblia é um livro muito extenso. Na verdade é uma biblioteca. E se pensarmos no nosso programa de ensinar toda a Bíblia, o trabalho seria muito grande, e tão amplo que se tornaria impraticável e quase interminável. Seria muito útil conhecer a história de Josué, ou os juízos de Deus contra a Babilônia, ou o naufrágio de Paulo, ou as saudações de Paulo aos romano (cap 16) ; mas não seria indispensável. Ensinar toda a Bíblia não foi necessariamente o programa de Jesus nem dos apóstolos. Quando Paulo disse aos anciãos de Éfeso, “porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (Atos 20:27), acaso estava querendo dizer que lhes ensinou toda a Bíblia?

As Sagradas Escrituras são os registros fidedignos e divinamente inspirados da história da salvação. Abrangem desde a origem da humanidade, a história do povo de Israel até a vinda de Cristo e o surgimento da Igreja. Seu valor transcendente é que em seus escritos narrativos, poéticos, proféticos, de testemunhos e epistolares estão registradas as PALAVRAS DE DEUS. A palavra de Deus, por ser a expressão do Deus absoluto, é absoluta e infalível. A bíblia nos comunica de modo imutável a Palavra do próprio Deus.

As Sagradas Escrituras registram as palavras que Deus falou a indivíduos ou povos em determinado momento e em circunstância particular; e também a palavra que Deus falou a todos os homens em todos os tempos. A primeira podemos chamar “palavra circunstancial e particular” e a segunda “palavra universal e eterna” .

Exemplo de uma palavra circunstancial e particular foi a que Deus disse a Abraão : “sai da tua terra e da tua parentela…” (Gênesis 12:1) ou o que disse a Jonas : ” levanta-te e vai a Nínive…”.

Exemplo de uma palavra universal e eterna: “Ama a teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39) ou “Cristo morreu por nossos pecados” (1 Coríntios 15:3).

2) Jesus Cristo e a Palavra de Deus

Hebreus 1:1-2 diz que Deus falou “muitas vezes e de muitas maneiras em outros tempos … pelos profetas”. Tudo o que Deus falou é Palavra de Deus, as vezes particular e as vezes universal. Mas “nestes últimos dias nos falou pelo Filho”. O Filho de Deus é ao mesmo temo a MENSAGEM e o MENSAGEIRO. Ele é a PALAVRA e as vezes o que DÁ a Palavra. Ele é a VERDADE e o que PREGA a verdade. Ele é o LOGOS ETERNO e as vezes é o máximo PROFETA mediante o qual Deus comunicou a todos os homens de todos os tempos sua PALAVRA UNIVERSAL E ETERNA.

Jesus Cristo é a PALAVRA em quatro aspectos:

a) A palavra é o meio de expressão e comunicação. Em Jesus Cristo Deus se expressou plenamente e se comunicou com o homem. Quando alguém fala, se sabe quem é e o que quer.

b) Ele era tudo o que ensinava. Todos seus ensinamentos eram a descrição de seu caráter e conduta. Ele era e é a Palavra, pois sua vida era o grande ensinamento de Deus a todos os homens. Jesus é a didaké. A síntese de toda a didaké é ser como Jesus.

c) Jesus é o tema do kerigma. O kerigma é a palavra de Deus que proclama a “obra de Cristo”. Ao proclamar a palavra, Cristo é revelado: sua deidade, sua encarnação, sua obra redentora, sua exaltação, etc.

d) Cristo é a palavra pois Ele é a substância da palavra de Deus. A palavra não era apenas uma expressão de Deus, a palavra era Deus. A palavra de Deus é muito mais que um som audível (vazio e sem substância). Tem o poder de efetuar o que expressa; subsiste em si mesma. O Pai é espírito, sua palavra também é espírito; o Filho é a substância espiritual da palavra que procede do Pai. Na plenitude da palavra de Deus está a plenitude de seu poder, a plenitude de sua sabedoria e a plenitude de seu ser (Colossenses 1:19 2:3,9). “e a Palavra (Verbo) se fez carne…” (João 1:14)

Quando alguém ouve a proclamação da palavra de Deus, ha uma realidade espiritual que se faz presente. Cristo está presente na palavra. Ele é a substância da palavra. Quando o que houve recebe a palavra com fé, na realidade recebe a Cristo e experimenta sua graça e seu poder.

Aquela palavra de Deus universal e eterna que Cristo foi e ensinou, foi comunicada especialmente a doze homens, seus apóstolos. Não temos outra fonte fidedigna e original de informação sobre a “obra de Cristo” e seus ensinos que os escritos de alguns destes apóstolos ou de seus colaboradores imediatos. A iluminação do Espírito Santo foi fundamental para que os apóstolos pudessem compreender o verdadeiro sentido dos ensinos de Jesus e, sobre tudo, receber a revelação concernente a pessoa de Cristo e sua obra redentora em toda sua amplitude, transcendência e universalidade em relação ao propósito eterno de Deus.

3) Kerigma e Didaké

É evidente pelo que dissemos até aqui que a parte fundamental da palavra universal e eterna de Deus é a revelação de Jesus Cristo nas Escrituras do Novo Testamento.

O fato de pregarmos coma bíblia na mão ou de iniciar toda uma pregação com uma passagem bíblica não significa necessariamente que estamos sendo fiéis à mensagem do Novo testamento. Quantos “estudos bíblicos” sobre escatologia são especulações de interpretação particular! Tem havido muitas espiriualizações, alegorizações, devocionais abstratos, etc. Quantas vezes tem-se feito a Bíblia dizer o que ela não disse! E até tem-se praticado a bibliomancia!

Conviria perguntarmos: concretamente, o que ensinavam e pregavam os apóstolos? Tinham eles um corpo concreto e completo de ensinos que consideravam indispensável comunicar? Tinham eles uma visão clara e global de tudo o que tinham que transmitir as comunidades que fundavam?
Podiam eles dizer depois de certo tempo de ensinar e pregar a seu grupo, “já lhes temos dado todo o conselho de Deus”?

Jesus em seus três anos de ministério comunicou a seus discípulos um pacote completo de ensinamentos. Ao comissioná-los para discipular as nações, ordenou-lhes expressamente que ensinassem “todas as coisas” que ele havia mandado. O apóstolo Paulo era zeloso em anunciar “todo o conselho de Deus”.

Este corpo completo de verdades e mandamentos é o kerigma e a didaké. Juntos constituem a PALAVRA do Senhor, o logos de Deus, que devemos comunicar a todos os homens de todas as nações e de todos os tempos. Os apóstolos tinham clara consciência de que o kerigma e a didaké eram o conteúdo total de sua pregação e ensino, a palavra universal e eterna de Deus. Não é tão extenso quanto a Bíblia, mas está contido nela, principalmente no Novo Testamento e é tudo o que necessitamos conhecer, crer e obedecer para ser iguais a Jesus.

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