Capítulo 1 – Simão, embora judeu, é causa de que Seleuco Nicanor, rei da Ásia, mande Apolônio, governador da Síria e da Fenícia, tomar os tesouros que estavam no Templo de Jerusalém. Alguns anjos aparecem a Apolônio, e ele cai semimorto. Deus, a rogo dos sacerdotes, salva-lhe a vida. Antíoco sucede ao rei Seleuco, seu pai, constitui Jasão, sumo sacerdote, o qual era muito ímpio, e serve-se dele para obrigar os judeus a renunciar à sua religião.
Devemos agora trazer provas do que eu disse do poder da razão sobre os sentidos. Nossos antepassados gozavam de profunda paz; seu sábio proceder e sua piedade faziam-nos estimados de todos e Seleuco Nicanor, rei da Ásia, permitia tomarem eles tanto dinheiro quanto quisessem, para empregá-lo no serviço de Deus, mas alguns malvados, que só sentiam prazer nas agitações e nas guerras, foram-lhe causa de grandes males.
Um certo Simão, traidor de sua pátria, depois de ter perseguido muito a Onias, sumo sacerdote, mas inutilmente, porque ele era um homem de bem e nada havia de censurável em suas ações, foi procurar Apolônio, governador da Síria e da Fenícia, e disse-lhe que seu zelo pelo serviço do rei o obrigava a declarar-ihe que havia no tesouro do Templo de Jerusalém uma quantidade muito grande de dinheiro que o rei tinha o direito de tomar. Apolônio, depois de muito ter elogiado esse péssimo indivíduo, avisou a Seleuco e recebeu ordem dele de ir acompanhado por Simão apoderar-se daquele tesouro. Dirigiu-se depois com grandes tropas a Jerusalém e os judeus para dissuadi-lo de executar tão injusta resolução, disseram-lhe que não se poderia sem grande impiedade despojar o Templo daquilo que tinha sido consagrado a Deus… Mas Apolônio, sem se incomodar com essas razões, entrou com ameaças no Templo para saqueá-lo seguido por seus soldados. Então os sacerdotes, como também suas mulheres e filhos, recorreram a Deus para pedir-lhe com fervorosas preces que protegesse aquele lugar santo, onde Ele era adorado, contra aqueles profanadores, que tiveram a ousadia de desprezar o seu poder. Apolônio então viu uns anjos em forma de cavaleiros descerem do céu e suas armas brilharem com vivíssima luz; foi tal o terror que sentiu que ele caiu por terra, semimorto. Pediu então com lágrimas nos olhos que os sacerdotes intercedessem a Deus por ele, a fim de que se retirassem aqueles temíveis ministros de sua vontade. Onias, comovido por suas preces e temendo que se ele morresse, Seleuco acusasse os judeus como culpados disso, rogou por ele; Deus escutou-o e Apolônio deu contas ao rei, seu amo, do que havia acontecido.
Seleuco morreu, logo depois, e Antíoco, seu filho, sucedeu-o no trono. Era um príncipe soberbo e cruel. Tirou a sacrificadura de Onias e a deu a Jasão, seu irmão, com a condição de ele lhe pagar, a cada três anos, mil e seiscentos e sessenta talentos. Como ele era mau e ímpio, apenas se viu elevado a essa dignidade; ele procurou afastar o povo do serviço de Deus e o levou, a seu exemplo, a se entregar a toda sorte de crimes e de coisas abomináveis. Não se contentou de estabelecer em Jerusalém academias de exercícios profanos, mas subverteu toda a ordem do Templo. Deus, porém, castigou logo tanta impiedade e serviu-se de Antíoco mesmo, para fazer sentir àqueles malvados os efeitos de sua indignação e de sua cólera. O príncipe soube que quando ele fazia guerra a Ptolomeu, rei do Egito, correra a notícia de que ele havia morrido, a cidade de Jerusalém tinha, mais que qualquer outra, dado demonstrações de alegria e ele para lá se dirigiu com seu exército, saqueou-a e ordenou por um édito que todos os que continuassem a viver na religião de seus antepassados seriam castigados com a morte.
Seu furor foi ainda além. Vendo que nem suas ordens nem suas ameaças podiam obrigar os judeus a renunciar às suas santas leis e que havia mesmo mulheres que, depois de ter feito circuncidar seus filhos, morriam com eles, orque preferiam perder a vida do que a alma, resolveu obrigá-los, por meio de tormentos, a abjurar à sua religião.
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