A primeira coisa que deveríamos perguntar é: o que é adorar? Será que adorar é apenas fechar os olhos e levantar as mãos durante um cântico? Ou é mais do que isto? Será que ao falar de adoração só estamos falando daquele período no encontro da igreja em que serão cantadas umas músicas? Entendo que não seja apenas isto (fechar os olhos e levantar as mãos e cantar alguns cânticos), creio que seja mais do que isto.
Embora eu esteja longe de ter a mais completa definição sobre o que é adorar, do que é ser adorador, quero contribuir nesta manhã com alguma coisa que melhore nosso entendimento a respeito deste assunto. Gostaria de dividir este simples compartilhar em três aspectos:
1º – A adoração e algumas de suas características;
2º – Adoração como fruto da obra do sacerdote; e
3º – A adoração e o uso dos dons espirituais.
1º – A ADORAÇÃO E ALGUMAS DE SUAS CARACTERÍSTICAS
ADORAR É TER REVERÊNCIA
Primeiramente a palavra “adorar” no Novo Testamento vem da palavra grega “proskuneo”, que em português nos traz a idéia de “ter profunda reverência, uma atitude reverente”. Então eu já começo percebendo que adoração e reverência caminham juntas. O dicionário nos diz que reverência traz a idéia de respeitar, honrar.
Já começamos a perceber que adoração é mais do que um cântico. Tudo fica mais claro quando entendemos que adoração tem tudo a ver com reverência, isto muda o enfoque desta palavra e das nossas atitudes. Dá-nos a responsabilidade de ser um verdadeiro adorador 24 horas por dia, todos os dias da semana e em todos os lugares (em casa, no trabalho, na rua e também nos encontros da Igreja) ABRAÃO, O PRIMEIRO ADORADOR? O primeiro texto na bíblia onde aparece a palavra adorar ou seus derivados é Gênesis 22.5. No texto de Gênesis 22.1-8 descreve a caminhada de Abraão indo sacrificar seu filho Isaque. Ao terminar de ler o texto eu me fiz a seguinte pergunta: Se a primeira vez que aparece a palavra adorar é em Gênesis 22, quer dizer que antes disso não houve nenhum outro adorador? É claro e evidente que houveram outros adoradores antes de Abraão, vejamos alguns:
1. Adão foi o primeiro homem criado. Interessantemente ele não tinha nenhuma ordem para fazer altar ou fazer algum culto ou ritual dedicado ao Senhor. Será que o Senhor nunca quis adoração e criou a adoração após o pecado do homem? Não, nos céus diz que os anjos o adoram, Hebreus 1.5-6. Satanás foi expulso dos céus ao querer ser maior que Deus, buscando a adoração que só cabia a Deus, Isaías 14.12-15. Então como Adão adorava ao Pai? Com obediência, fruto de um coração reverente. Reconheço que, a partir do pecado de Adão, uma natureza adoradora no coração do homem passou a ser uma coisa rara, por isto o Pai busca os que assim procedem.
2. Enoque, Gênesis 5.21-24. Enoque andou com Deus e foi tomado para o próprio Deus. Temos que nos lembrar que Deus busca, procura por adoradores, e isto se tornou tão raro que naquela época Deus achou a Enoque e o tomou para si. Ser adorador é andar com Deus, é viver para Deus.
3. Noé também andou com Deus e fez tudo o que o Senhor mandou, Gênesis 6.8-9 e 22.
4. A partir de Gênesis 12, começa a história de Abraão, de como ele andou com Deus e foi chamado amigo de Deus, Tiago 2.23. Então já começo também a perceber que ser um adorador é ser um amigo de Deus. É se relacionar com Deus, é ter intimidade com Ele.
QUEM CRÊ OBEDECE
Aliás, o relato de Gênesis 22 é citado também no Novo Testamento na carta de Tiago quando ele fala que a fé sem obras é morta, Tiago 2.14-24. Eu entendo que neste texto aprendemos que adorar é obedecer a Deus (ter fé), adorar é ser amigo de Deus. O texto nos mostra que obedecer é fruto de uma vida com fé. Quando Tiago fala que a fé sem as obras são mortas, ele quer dizer que através de uma atitude obediente eu posso ver o quanto de fé a pessoa tem, por exemplo, quando se diz que é necessário ao que se arrependeu que se batize, e esta pessoa obedece, vejo que esta pessoa tem fé na sua salvação, caso contrário se a pessoa rejeita o batismo percebo através desta atitude o que está em seu coração, percebo que esta pessoa de fato não crê no governo de Deus sobre a sua vida. Pois, quem crê obedece. Entendo que este é mais um texto sobre adoração. E segundo Tiago, eu adoro a Deus quando o obedeço e quando supro as necessidades do meu próximo.
O SONAR DE DEUS: A SUA BUSCA
Outra palavra no texto de João 4 que me chama atenção é a palavra “buscar”. Se o evangelista nos alerta que Deus está à procura deste tipo especial de pessoa (o adorador), se eu realmente tenho prazer e amo a Deus, eu vou querer ser achado por Ele. No grego o verbo “buscar” que aparece no texto é “zeteo”. Ele traz a idéia de “procurar a fim de encontrar algo”. Como alguém que está atrás de algo raro ou difícil. Um bom exemplo disto é o que recentemente ocorreu com as buscas aos restos do avião da Air France que fazia o percurso Rio-Paris e que caiu no mar, próximo a Fernando de Noronha. As buscas dos destroços cobrem uma área de mais ou menos 7mil km2, a uma profundidade de quase quatro mil metros, e eles lançaram um submarino que aguentasse às altas pressões do fundo do mar, com sonar e outros equipamentos em busca destes destroços. Deus é assim, com o seu sonar ele busca adoradores. Um sonar é um aparelho que permite a navegação e a determinação da distância pelo som. Este aparelho, numa explicação bem básica, usa o nosso conhecido eco. O ultrassom e o eco cardiograma são exemplos simples do que estamos falando. Deus hoje está fazendo isto aqui neste encontro, e não só aqui, mas em toda a face da terra, ele está lançando um sinal e esperando o seu retorno, é assim que funciona um sonar, e o retorno que Deus espera é um coração reverente, adorador. Buscar neste texto fala da busca, da procura ansiosa de Deus por um coração que corresponda ao dEle. Que esteja na sintonia dEle. Incrível pensar que é Deus que faz tudo: é Ele quem busca um adorador (João 4.23), é Ele quem nos atraiu (João 6.43-45, 65), até a fé para ser salvo é Ele que nos dá, pois somos incapazes de crer nele (Efésios 2.8), para isto é necessário que até Ele nos convença de que somos pecadores, pois até esta noção nós somos incapazes de gerar por nós mesmos (João 16.7-8), toda boa dádiva vem dEle (Tiago 1.16-18). O pecado foi uma tragédia sem comparação em toda história da humanidade, a tragédia do “11 de setembro” junto com os terremotos que houveram no Japão, Chile e Haiti juntos não se comparam com a tragédia chamada “o pecado” na vida do homem, a queda foi tão grande que nos deixou totalmente aleijados, não só tetraplégicos mais totalmente aleijados, nos separou de Deus e nos deformou de tal maneira que é necessário que Deus faça tudo em nós para nos restaurar. Por isto é tão raro achar uma adorador, fazendo com que Deus faça um tremendo esforço na busca de um adorador. Queira Deus que Ele nos encontre a todos nós hoje, e que meu coração não esteja insensível, endurecido ao toque do Espírito Santo.
DAVI, UM HOMEM A QUEM DEUS BUSCAVA
Um exemplo de alguém que foi achado por Deus é Davi. Davi é claramente um adorador, um homem conforme o coração de Deus. Como o texto de João fala que Deus busca os que assim o adorem, creio que é da natureza de Deus procurar este tipo de pessoa, este tipo de gente, estes adoradores. E foi assim que Deus encontrou a Davi, vejamos: 2 Samuel 7.8; Salmos 89.19-20; Atos 13.22. Davi era uma pessoa conforme o coração de Deus, pois ele obedecia a Deus, ele fazia tudo o que Deus mandava. Vemos que adoração a Deus que não passa pela obediência a Deus é vazia é vã, não é em espírito e em verdade.
ADORADOR FALSO, ADORAÇÃO VÃ
O incrível da adoração é que há a possibilidade dela ser falsa. Pois se o texto diz que há um verdadeiro adorador é porque há a possibilidade de ser um falso adorador (João 4.23). A diferença entre eles é atitude do coração: o verdadeiro adorador adora o Pai em espírito e em verdade. Ele tem um coração reverente 24 horas por dia, todos os dias. Além disto, a adoração também pode ser vã. Algo vazio e sem valor. Adoração é vã quando é fruto de obras legalistas, Marcos 7.5-23 (5-7).
CONDIÇÕES PARA SER UM ADORADOR
Eu ouso afirmar que: “Todo adorador é um discípulo e que todo discípulo é um adorador”. São palavras sinônimas. Imaginem esta situação: lá no céu só entra discípulo. E Deus, aqui na terra, procura verdadeiros adoradores. Lá no céu tudo é adoração, como ele vai encher o céu de adoração se o discípulo entrar e o adorador ficar de fora? Digo mais: Adorador é mais que um substantivo, é uma qualidade do discípulo. Então todas as condições para ser discípulo são condições para ser adorador (Lucas 14.33, Marcos 8.34-35).
JESUS, UM VERDADEIRO ADORADOR
Outra coisa interessante é que acerca de Jesus não se fala em nenhum texto explicitamente que Ele tenha adorado ao Pai (pelo menos eu não achei nenhum texto). Mas sobre Ele não nos pesa nenhuma dúvida de que não há, não houve e não haverá alguém que tenha adorado ao Pai de maneira tão profunda e íntima. Observo que Jesus era alguém em quem o Pai se comprazia (Mateus 3.16-17). Quando criança foi submisso aos seus pais humanos (Lucas 2.40, 51-52). Como verbo encarnado, devido a sua total obediência, Ele foi exaltado, Filipenses 2.5-11.
Por que o Pai tinha tanto prazer neste adorador? Porque Ele sempre fez a vontade de Deus, Ele sempre obedeceu ao Pai (João 4.31-34).
ADORAR É PRESTAR CULTO
Na tentação do deserto, quando Satanás em pessoa lhe apareceu, ele sugeriu que Jesus deveria adorar a ele. A resposta de Jesus foi que só a Deus deveríamos adorar e prestar culto (Mateus 4.9-11), em outras traduções a expressão “prestar culto” é substituída por “servir”. Então entendo que adorar é prestar culto, adorar é servir. No original a palavra servir do v.11 (diaconeo) é diferente da palavra servir do v.10 (latreuo), aqui esta expressão significa prestar serviço religioso ou reverência, adorar. Vemos mais uma vez as palavras adoração e reverência juntas.
2º – ADORAÇÃO COMO FRUTO DA OBRA DO SACERDOTE
ADORAR É APRESENTAR SACRIFÍCIOS A DEUS
1 Pedro 2.9 diz que somos uma nação sacerdotal, mas para que serve um sacerdote? Hebreus 5.1-4; 1 Pedro 2.5. No Novo Testamento estes sacrifícios são os sacrifícios de louvor, oração, intercessão, proclamação, cuidar das necessidades do próximo, Hebreus 13.15-16; 1 Pedro 2.9; e Filipenses 4.18. É o culto racional e sacrifício vivo, Romanos 12.1-2.
3º – A ADORAÇÃO E O USO DOS DONS ESPIRITUAIS
ADORANDO A DEUS NO USO DOS DONS ESPIRITUAIS
O dons espirituais de 1 Coríntios 12 devem ser usados conforme 1 Coríntios 14. O que deve regê-los é o amor (1 Coríntios 13). Então nos capítulos 12, 13 e 14 falam quais são os dons (capítulo 12), o que é mais importante que os dons – o amor (capítulo 13), e como o amor deve reger os dons (capítulo 14). É como um maestro e sua orquestra: cada dom tem o seu momento exato, a manifestação dos dons do Espírito Santo soa diante de Deus como uma sinfonia perfeita. Cada instrumento ao seu tempo. Se numa orquestra todos os instrumentos tocarem de forma desordenada não se ouvirá a melodia.
Então, o que fazer quando nos reunirmos? A resposta está em 1 Coríntios 14.26-33. Isto é o que deve ocorrer nos encontros da igreja, no encontro das casas e quando estivermos 2 ou 3 reunidos em nome do Senhor. Há sim uma estrutura básica montada para o encontro, com uma certa ordem para o louvor, recolhimento de oferta e ministração da palavra, mas isto não deve e não pode impedir a espontaneidade das manifestações do Espírito Santo. Não quero dizer com isto que os nossos encontros estejam errados, e sim, que eu devo tirar de minha mente que a ao chegar ao encontro, a adoração congregacional não terá a minha participação. O culto ao Senhor somos nós (todos nós) que fazemos debaixo da direção do Espírito Santo. Estamos todos aqui para darmos nossa parcela de contribuição ao encontro na manifestação do Espírito Santo. Todos nós aqui somos instrumentos vivos nas mãos do Senhor. Mário Fagundes, um dos presbíteros de Salvador-BA, fez os seguintes comentários acerca deste texto: Ao fazermos uma análise destes versículos podemos perceber uma clara orientação para os encontros da igreja.
Vejamos:
1 Coríntios 14.26 – “O que fazer, pois, irmãos?” A pergunta está relacionada com o que o Apóstolo disse antes sobre os dons de línguas e profecia. Após explicar o que acontece quando só falamos em outras línguas e quando profetizamos, o apóstolo faz esta pergunta, como quem diz “e agora, o que temos que fazer? manifestar um só dom? apenas falar em outras línguas e todos ao mesmo tempo?” “Quando vos reunis, cada um tem…”. Aqui o apóstolo está trazendo clareza sobre a diversidade dos dons.
Contrastando com o que estava acontecendo de só manifestarem um dom e todos ao mesmo tempo. Isto não é uma lista acabada, mas sim uma indicação de coisas que podem acontecer.
- Salmo – são cânticos, orações, poesias, declarações de amor, de gratidão, de súplica, etc.
- Doutrina – são mandamentos claros para serem obedecidos.
- Revelação – é quando um versículo ou um texto se torna claro para mim.
- Outra Língua – é a manifestação do dom de Línguas.
- Interpretação – é dar sentido ao que falou em outra língua.
1 Coríntios 14.27-30 -“…não sejam mais do que dois…”. Aqui o apóstolo está orientando a igreja como todos podem participar. A participação deve ser com diversidade nos dons e ordem. A participação não deve ser longa por parte de uma única pessoa e nem muitas pessoas manifestando durante muito tempo o mesmo dom. Isto nos ajudará a ficar atentos a tudo o que está ocorrendo, pois a nossa mente não consegue se prender por muito tempo à mesma coisa. Portanto, quando existe diversidade de manifestações e muitos participando o nosso aproveitamento é melhor.
1 Coríntios 14.28 – “Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja…”. Aqui aprendemos que no culto a Deus não pode haver ansiedade. Temos que estar dóceis e sensíveis ao Espírito para saber o momento de participar e o momento de calar. Se não for possível participar hoje, aguardarei o momento que me seja propício.
1 Coríntios 14.31 – “…para todos aprenderem e serem consolados”. Aqui está o objetivo da participação de todos e da diversidade dos dons, pois é praticando o que está nos versículos acima que poderemos colher o que está no versículo 31.
Nesta porção da Escritura aprendemos muitas coisas, mas podemos ressaltar três: PARTICIPAÇÃO DE TODOS, DIVERSIDADE DOS DONS E SEM ANSIEDADE.
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