A parábola do pai amoroso

Esta parábola, que também é chamada de “A parábola do filho pródigo”, ou ainda “A Parábola do filho mais velho”, por muitos considerada “o coração do evangelho”.

Esta simples e, ao mesmo tempo, profunda história narrada no evangelho de Lucas 15.11 a 32, tem muito, muito mesmo a nos ensinar.

Dos três títulos acima talvez o mais citado e comentado na grande maioria das pregações que temos ouvido até hoje tem de sido, de fato, o do filho pródigo(e é assim que tem constado nos títulos em nossas Bíblias, por sinal, um acréscimo humano não inspirado por Deus). Muitos pensam, porém, que a ênfase maior que Jesus tencionou dar, estava na atitude do filho mais velho que ficou em casa .Outros dizem, nem num filho nem no outro. Esta parábola, acima e antes de tudo, está enfatizando o grande amor que aquele pai teve pelos seus dois filhos.

É óbvio que Jesus aqui estava falando dele próprio. O pai é ele, Jesus, chamado de Pai da eternidade em Isaías 9.6, ele foi o enviado de Deus para buscar e salvar os perdidos, o bom pastor que está à busca das ovelhas desgarradas.. O filho pródigo, também chamado de filho perdido ou esbanjador(que é o primeiro significado de pródigo), representa a humanidade afastada de Deus, ou seja, você e eu antes de sermos abraçados por Jesus. O filho mais velho representa aquele que está dentro de casa, junto do pai, mas que ainda não provou seu grande amor, portanto, parece tão perdido como o outro. Este, com certeza, pode representar aquele tipo “ religioso”, que está na igreja, mas não tem comunhão viva com Deus.

Com qual dos três eu mais me identifico?

O filho pródigo?

Esta é uma pergunta pertinente que vai revelar algo muito importante: sou eu o filho pródigo , sou eu um religioso sem vida, ou já me tornei um pai espiritual, um pai compassivo e amoroso?

A grande maioria que vai ler estas notas provavelmente irá dizer: fui, sim, um filho pródigo, mas deixei de sê-lo desde que Cristo me achou e me acolheu. Minha vida, outrora, era sem destino e sem propósito. No dizer daquele velho hino: “A minha alma estava longe dos caminhos de Deus, eu era um pobre e miserável pecador”, assim era eu. Mas “foi na cruz, foi na cruz, onde um dia eu vi, meus pecados castigados em Jesus”. Como aquele filho perdido desta parábola eu comia as alfarrobas dada aos porcos até que Cristo me tirou do lamaçal , me lavou com seu sangue, me deu vestiduras limpas e me encheu com seu Santo Espírito. Daí em diante, minha vida passou a ter propósito, alvo, direção. Agora vivo seguro nos braços do meu Pai.

O filho mais velho?

Outros poderão pensar ao se analisarem com mais profundidade: ando com suspeitas de estar muito parecido com o segundo filho desta parábola. Parece que estou me tornando um religioso. Na verdade, o fantasma ou espectro da religiosidade está sempre a circundar-nos. Que isto vem de algum demônio não há dúvida, pois o diabo detesta discípulos fervorosos, discípulos autênticos, discípulos que oram, discípulos que ganham muitas vidas e cuidam bem delas.

Existem termômetros de sensibilidade espiritual pelos quais podemos aferir nossa vida em Cristo., baseando-nos na Palavra e na direção do Espírito Santo. Simples perguntas também ajudam-nos…
– Comparando-me com o tempo logo após minha conversão, como estou agora?
– Continuo dando testemunho e evangelizando os perdidos?
– Continuo lendo a Bíblia diariamente e tendo um hábito de oração com Deus?
– Tenho prazer de estar em comunhão com meus irmãos e adorar juntos na congregação?
– Estou cuidando de vidas, como um pai espiritual e tenho prazer de ajudá-las no crescimento?
– Minhas prioridades ainda são Deus, família, igreja?

Se suas respostas a estas perguntas foram positivas, penso que você não é um religioso, mas um discípulo fiel que continua seguindo a Cristo sinceramente.

As atitudes do filho religioso desta parábola, por sua vez, denotam reações de quem está longe do Senhor, mesmo dentro de casa. Vejamos algumas:
a) Ao invés de alegrar-se com o retorno do irmão, ficou indignado e nem quis entrar dentro de casa(v.. 28).
b) Reclamou descaradamente ao seu pai.demonstrando grande ressentimento(v.29)
– O pai, aflito e amoroso, diz-lhe uma frase elementar: “Meu filho, tudo o que é meu é teu.”
– A tragédia, neste caso, é que o filho nunca tinha se apropriado de tudo o que o pai tinha para ele.
– Havia para ele também uma reserva considerável de dinheiro que fazia parte de sua herança.
– Espiritualmente falando, há, para os filhos de Deus, uma fonte inesgotável de provisões espirituais.”Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”(Romanos 8.17). Quer riqueza maior? “A minha graça te basta”, disse Deus a Paulo. E em Isaías 55 o mesmo Senhor nos diz: “Ah, todos vós que tendes sede, vinde às águas e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.”
Por alguns motivos, os religiosos “acomodam-se” na casa do Pai e nunca participam dos banquetes que Deus lhes oferece a cada dia. E ainda resmungam e ressentem-se por não terem suas necessidades supridas. O problema do religioso, então, parece ser ainda mais grave do que o do pródigo. Preferível ser um filho pródigo que se atira nos braços do Pai do que ser um religioso que nunca conheceu o calor destes braços fortes. Na verdade, os dois são pródigos, um, metidos nas orgias deste mundo, outro com seus pecados secretos revestidos de religiosidade.
O diabo é um perito envernizador. Sabe passar verniz de todo tipo para enganar as pessoas.

Fez assim com a primeira mulher: “´´É assim que Deus disse?…” Em outras palavras:”Não, não é bem assim…” Proveu , depois, para o casal, folhas de árvores para tapar suas vergonhas, enquanto que a provisão de Deus, era a pele de um animal que representava a cobertura de Cristo.E assim o diabo continua mistificando, envernizando de religiosidade as coisas de Deus.

Se Jesus diz que é o único caminho para o Pai, o diabo mostra muitos outros caminhos diferentes(afinal, “todas as religiões são boas”).
Se Jesus diz: “Nega-te a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me”, o diabo dá um jeito de “simplificar”, insinuando que isto é ser radical, fanático, e corta a cruz pela metade ou a dispensa..
Se Jesus diz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”, o diabo oferece uma falsa paz, contrariando o que Jesus disse sobre a paz que o mundo não pode dar.

Estas são as táticas preferidas do inimigo contra aqueles que estão mais próximos da verdade, porque estão ouvindo a Palavra, mas nunca chegam a entendê-la. O teólogo alemão Dietrich Bonhoefer, referindo-se aos religiosos de sua época(tempos do ditador Adolph Hitler), afirmou algo terrível e verdadeiro:”Nós, cristãos, nos acercamos do cadáver da graça barata e dali absorvemos o veneno que matou a vida de nossas igrejas.”

Referia-se ele a uma graça aceita apenas intelectualmente, sem o compromisso de uma vida convertida(O oposto da “preciosa graça”) . Por incrível que pareça, as próprias palavras de Deus que os religiosos ouvem vez após vez, acabam tornando-se um antídoto(remédio contra veneno) impedindo-os de receber a salvação em Cristo. Não é de admirar que a principal “bronca” de Cristo foi contra os religiosos de sua época:
“Ai de vos, guias cegos, ai de vós hipócritas porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora se encontram belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos, e de toda a imundícia.”(somente em Mateus 23.13 a 38 há cerca de oito ais! como este). Não esqueçamos que foram os religiosos que fizeram um diabólico complô para levar Cristo à morte. E hoje, as coisas não mudaram, são os religiosos que levam muitos ao fanatismo promovendo “guerras santas” contra os verdadeiros crentes.
A estas alturas espero que ninguém deseje continuar na religiosidade, antes, converta-se deste pecado, e entregue totalmente a vida a Cristo tornando-se assim um verdadeiro discípulo.

O pai espiritual?

Seguindo o caminho do discipulado a Cristo vamos tornando-nos cada dia mais parecidos com Jesus. Passamos da fase de infância espiritual e chegamos à paternidade, ou seja, à geração de filhos, ao cuidado amoroso dos recém nascidos. Em outras palavras , todo o discípulo deve tornar-se um discipulador, todo liderado deve tornar-se um líder, todo filho deve chegar a ser pai.

“Filhinhos(diz o amado João em 1 Jo 2.14), eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi porque sois fortes e a palavra de Deus permanece em vós e tendes vencido o maligno.” Assim como na nossa vida natural passamos por três fases distintas, infância, juventude e vida adulta, assim na vida cristã vamos passando por fases distintas e chegando à maturidade. Ser pai espiritual é entrar num processo de maturidade cheio de graça e alegria. Você passa a dar frutos, a ter filhos espirituais com a carinha de Jesus. E, no dizer do amado João:”Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade”(3 Jo 4).

A família do Senhor anda tremendamente necessitada de pais espirituais. Há na igreja milhares de órfãos sem cuidado algum. Felizmente o nosso Deus também é chamado de “pai dos órfãos” e assim vai suprir seus recém nascidos com o genuíno cuidado amoroso. Porém, e isto deve ser dito em alto e bom som. Deus mesmo precisa contar conosco nesta notável tarefa de representá-lo junto aos seus filhinhos. Experimente jogar uma criança recém nascida no meio do mato. Que crueldade, é morte certa!. Mas o trágico é que na família do Senhor, muitas vezes, isto tem acontecido sem que muitos de nós nos demos conta. John Wesley disse certa vez: “É um crime levar as pessoas a Cristo sem dar-lhes depois nenhum cuidado espiritual .”

Paulo nos fala de “ternos afetos, ou entranhas de misericórdia”(Cl 3.12). Ou seja, lá de dentro, de nossas entranhas, do mais íntimo do nosso coração, devem surgir estes ternos afetos, esta compaixão profunda pelos perdidos e agora recém nascidos em Cristo. O mesmo Paulo chegou a falar assim: “Meus filhos, por quem sinto dores de parto até ser Cristo formado em vós”(Gl 4.19).

Sem dúvida, esta é uma declaração de profundo amor, comparando-se ele também com uma mãe devotada ao futuro bebê no processo de dar à luz. Aliás, o Senhor Jesus, que é o nosso amado “Pai da eternidade”, também conmparou-se, pitorescamente, à mamãe galinha, ao dizer: “…quantas vezes eu quis eu ajuntar-vos como a galinha ajunta seus pintinhos debaixo de suas asas e vós não o quisestes!”(Mt 23.37) Falando através do profeta Isaías, nosso Deus, dizia: “Como alguém a quem a sua mãe consola, assim eu vos consolarei”(Is 66.13).

Se Deus que é Pai, compara-se também a uma mãe devotada aos filhos, conclui-se que todo o profundo amor que fortalece, guia e instrui(características paternas), e que também acaricia, consola e amamenta(características da mãe) deve fazer parte de nossa vida quando nos dedicamos a formar outras vidas. Novamente Paulo nos dá o lindo exemplo, quando, muitas vezes, chamava seus discípulos de filhos(Veja 1 Tm 1.2, Tt 1.4 e 1 Tessalonicenses 2.7-12). Neste último texto preste atenção às suas expressões carinhosas: “qual ama que acaricia os próprios filhos”(v 7), “querendo-vos muito”(v.8), “vos tornastes muito amados de nós”, “como pai a seus filhos, a cada um de vós, exortamos, consolamos e admoestamos” (vv.11 e 12).

Diante de tudo o que estamos vendo sobre a verdadeira paternidade, vamos concentrar-nos menos em sermos bons mestres ou discipuladores(muito preocupados com o ensino por mais importante que ele seja), e vamos concentrar-nos mais em sermos bons pais, bons pastores, bons amigos dos filhos espirituais que Deus nos confiou .Acima de tudo, imitemos Jesus nisto, que era movido de íntima compaixão pelos perdidos e tudo fazia para santificá-los. Mais do que aprendizes, os discípulos que cuidamos devem encontrar em nós pais amorosos, pais carinhosos, pais firmes que os guiem e formem “pelas veredas da justiça”.

SER PAI é mais do que ser mestre,
É ser amigo, companheiro, ajudador
É fazer as coisas de coração,
Movido de íntima compaixão

SER PAI é trazer junto ao peito
O filho querido
É orientá-lo, é consolá-lo, é dirigir-lhe os passos
E fazê-lo bem instruído.

AJUDA-ME, Senhor, a ser pai
Seguindo teu modelo
O desafio é tremendo
E a mim cumpre obedecê-lo.

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