A Disciplina Espiritual do Jejum

Esclarecimento sobre a disciplina espiritual do jejum

Jejum

O jejum refere-se à abstenção de alimento com fins espirituais

É necessário haver um esclarecimento sobre a disciplina espiritual do jejum. Há muitas dúvidas acerca disso, e por causa dos poucos ensinamentos sobre o jejum, muitos não sabem como fazê-lo.

Nas Escrituras, o jejum refere-se à abstenção de alimento com fins espirituais; por isso, ele está sempre associado à oração. É inconcebível a prática do jejum sem oração. Aquele que se abstêm de alimentos mas não reserva tempo para a oração está, na realidade, fazendo uma dieta. Com isso, ele pode até alcançar algum benefício físico, mas permanecerá sem adquirir benefícios espirituais. Na Bíblia, o conceito de jejum – fisicamente falando – envolvia total abstinência de qualquer alimento, sólido ou líquido, excetuando-se a água. No jejum de quarenta dias de Jesus, o evangelista diz que ele “nada comeu” e que ao fim daquele período “teve fome”. A Bíblia relata que Satanás tentou Jesus a comer, o que indica que a abstenção era apenas de alimento (Lucas 4.2ss).

Restrição parcial de alimentos

A Bíblia ainda descreve o que pode ser considerado um jejum parcial, ou seja, a restrição de apenas alguns tipos de alimentos. Embora o jejum normal fosse prática costumeira do profeta Daniel, houve uma ocasião em que ele fez um jejum parcial: “Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras” (Daniel 10.2-3). Mas há também diversos exemplos bíblicos do que podemos chamar acertadamente de “jejum absoluto”, ou abstenção tanto de alimento como de água. Essa parecia ser uma medida para atender a emergências por fatores externos. Após saber que a execução aguardava a ela e ao seu povo, Ester instruiu a Mordecai: “Vai, ajunta a todos os judeus (…) e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos” (Ester 4.16). Paulo também fez jejum absoluto de três dias após seu encontro com o Cristo vivo (Atos 9.9). Considerando que o corpo humano não pode ficar sem água mais do que três dias, tanto Moisés como Elias empenharam-se no que podemos considerar “jejuns absolutos sobrenaturais” de quarenta dias (Deuteronômio 9.9; 1 Reis 19.8). É preciso frisar que o jejum absoluto é uma exceção orientada por Deus, e os que o praticaram foram sustentados sobrenaturalmente.

O jejum diz respeito a assuntos entre o indivíduo e Deus

Na maioria dos casos, o jejum diz respeito a assuntos entre o indivíduo e Deus. Há, contudo, momentos ocasionais de jejuns públicos ou de um grupo. O único jejum público anual exigido pela lei de Moisés era realizado no dia da expiação (Levítico 23.27) – dia do calendário judaico em que o povo tinha o dever de estar triste e aflito como forma de expiação pelos seus pecados. Quando o reino de Judá foi invadido, o rei Josafá convocou a nação para jejuar (2 Crônicas 20.1-4) – mais um exemplo de “jejum de emergência”. Em resposta à pregação de Jonas, toda a cidade de Nínive jejuou, inclusive os animais. Antes do retorno a Jerusalém, Esdras fez os exilados jejuarem e orarem por segurança na estrada infestada de salteadores (Esdras 8.21-23). Em 1756, o rei da Inglaterra convocou um dia solene de oração e jejum por causa da ameaça de invasão por parte dos franceses. John Wesley registrou este fato em seu Diário: “O dia de jejum foi um dia glorioso, tal como Londres raramente tem visto desde a Restauração. Cada igreja da cidade estava mais lotada, e uma solene gravidade estampava-se em cada rosto. Certamente Deus ouve a oração, e haverá um alongamento de nossa tranquilidade”. Em uma nota ao pé da página ele escreveu: “A humildade transformou-se em regozijo nacional porque a ameaça da invasão dos franceses foi impedida”.

Primeira declaração que Jesus fez acerca do jejum

Lembremos, no entanto, que na primeira declaração que Jesus fez acerca do jejum ele falou sobre motivação (Mateus 6.16-18). Usar boas coisas para nossos próprios fins é sempre um sinal de falsa religião. É muito fácil fazer do jejum um artifício para barganhar com Deus. Muitas vezes as bênçãos do jejum são inúmeras, e somos tentados a crer que com o jejum podemos ter o mundo e mesmo Deus ao nosso dispor. Isso é um grande erro. O jejum deve sempre estar centrado em Deus e ser ordenado por Ele. Como a profetisa Ana, precisamos “cultuar em jejuns” (Lucas 2.37). Todo os nossos propósitos devem estar a serviço de Deus, como no caso daquele grupo apostólico de Antioquia: “servindo ao Senhor” e “jejuando” devem ser ditos em um só fôlego (Atos 13.2). C.H. Spurgeon escreveu: “Nossas temporadas de oração e jejum no Tabernáculo têm sido, na verdade, dias de elevação; nunca a porta do céu esteve mais aberta; nunca nossos corações estiveram mais próximos da glória central”.

Deus interrogou o povo no tempo de Zacarias: “Quando jejuastes (…), acaso foi para mim que jejuastes (…)?” (Zacarias 7.5). Se nosso jejum não é para Deus, então fracassamos. Benefícios físicos, êxito na oração, dotação de poder, discernimentos espirituais – estas coisas nunca devem tomar o lugar de Deus, nunca devem ser o centro do nosso jejum. John Wesley declarou: “Primeiro, seja ele [o jejum] feito para o Senhor, com nosso olhar fixado unicamente nele. Que nossa intenção aí seja esta, e esta somente: glorificar a nosso Pai que está no céu…”. Esse é o único modo de não amar mais a bênção do que Aquele que abençoa.

Propósitos secundários em jejuar

Uma vez estando o propósito inicial verdadeiro firmado em nossos corações, estamos livres para entender que há também propósitos secundários em jejuar. Mais do que qualquer outra disciplina, o jejum revela as coisas que nos controlam – e esse é um maravilhoso benefício para o verdadeiro discípulo, para aquele que anseia ser transformado à imagem de Jesus Cristo. Cobrimos com alimentos e com outras coisas boas o nosso caráter, mas no jejum as coisas ruins vêm à tona. Se o orgulho nos controla, ele será revelado quase imediatamente. Ira, amargura, cólera, ciúme, discórdia, medo; se estiverem dentro de nós, aflorarão durante o jejum. A princípio, pensaremos racionalmente que a ira é resultado da fome; mas depois descobriremos que estamos irados por causa do espírito de ira que há dentro de nós. Podemos nos regozijar nessa revelação, porque sabemos que a cura está disponível mediante o poder de Cristo. O jejum nos ajuda a manter nosso equilíbrio. Muito facilmente permitimos que coisas não essenciais adquiram prioridade em nossas vidas. Desejamos ardentemente coisas das quais não necessitamos, até que sejamos por elas escravizados. Nossos anseios e desejos humanos são como um rio que tende a transbordar; o jejum, porém, ajuda a mantê-lo no leito.

Conclusão

Por fim, é importante ressaltar que o jejum pode trazer avanços no reino espiritual que jamais poderiam ter sido alcançados de outra maneira. Ele é um recurso para a graça e a bênção de Deus, e que não deve ser negligenciado por mais tempo. Wesley declarou: “(…) não é meramente pela luz da razão (…) que o povo de Deus tem sido, em todos os tempos, levado a usar o jejum como um recurso, (…) mas eles têm sido (…) ensinados a esse respeito pelo próprio Deus, mediante claras e abertas revelações de sua Vontade (…). Ora, quaisquer que tenham sido as razões para reavivar os [homens] do passado, em seu zeloso e constante cumprimento deste dever, elas são de igual força para reavivar-nos”. (Texto extraído e adaptado do livro ‘Celebração da Disciplina’ de Richard J Foster)

Por Pr. Gustavo Bessa

1 Comentário



* Ao comentar você concorda com os termos de uso. Os comentários não representam a opinião do site e passarão por aprovação do administrador.

  1. Daniel disse:

    qual a fonte desse jejum na Inglaterra? Não encontrei ninguem dizendo a fonte na internet