Frutos do Espírito: Domínio Próprio

Domínio próprio, ou auto-domínio, é mais uma das expressões do fruto do Espírito que um discípulo precisa apresentar, para ter, evidentemente, o caráter de Cristo.

Nunca podemos esquecer que somos filhos de Deus e que a semelhança de Jesus tem de ser encontrada em nós. Expressar domínio próprio significa vida sob controle de nosso “eu” inteiramente rendido à vontade de Deus.

Vamos começar este capítulo estudando o que somos. 1 Tessalonicenses 5,23 diz: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso senhor Jesus Cristo”. Aqui está a declaração bíblica do que o ser humano é: espírito, alma e corpo. Somos constituídos destas três partes. Vamos ver a função de cada uma dessas partes.

Frutos do Espírito: Domínio Próprio

Frutos do Espírito: Domínio Próprio

 

1) Corpo

É a nossa parte física, formado por Deus do pó da terra. Este corpo recebeu vida quando Deus soprou nele o fôlego da vida ( o espírito humano). O texto bíblico diz que a união do fôlego da vida com o corpo fez surgir a alma. O homem assim tornou-se consciente de si mesmo (Gênesis2,7). O corpo (a carne) é tudo que sou fisicamente, incluído os impulsos biológicos. É, pelo corpo, que temos contacto com o mundo material, através dos nossos cinco sentidos. Desde a queda do homem, os seus impulsos carnais e seus impulsos biológicos natos, se corromperam.

Paulo dá um retrato bem claro do que é o homem, antes de nascer de novo: ”Estando vos mortos em vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós andamos outrora, segundo as inclinações de nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos é éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2.1-3). Assim, com a queda, o homem passou a viver pelos muito pelos impulsos de seu corpo.

2) Alma

A alma é a nossa parte psíquica, não tem matéria; não tem substância material. É o nosso eu, nosso ego, é o que somos realmente como pessoa. É ela que nos toma conscientes do que somos, conscientes de nossa existência. É a sede de nossa mente, vontade e emoções; Por esta razão ela se toma o eixo de todo o nosso ser. A “personalidade” é a expressão da alma, do caráter, a expressão própria de ser. Os elementos que nos fazem humanos pertencem à alma. É por isso que, às vezes, a Bíblia chama o homem de alma.

3) Espírito

É a parte mais nobre de nosso ser. Deus o criou para ser o lugar de sua habitação em nós. Com o pecado o espírito humano fechou-se, como que morreu, para Deus. Com o novo nascimento, nosso espírito abre-se, vivifica-se para Deus. Então Deus vem nele morar, através do Espírito Santo. Com o espírito conhecemos a Deus, temos comunhão com Ele. Toda a revelação que vem de Deus para nós ocorre em nosso espírito. Também toda a adoração de Deus tem que ocorrer no espírito.

Lembremos as palavras de Jesus: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4.24). Este texto mostra que temos algo que Deus também possui, o espírito, justamente para ser o elemento de nossa ligação direta com Ele. O profeta Zacarias declara que “o Senhor formou o espírito do homem dentro dele” (Zacarias 12.1). Nele estão três elementos importantes: Consciência, que é o órgão de discernimento, distingue o certo do errado: Intuição.

O órgão sensitivo do espírito humano; através dela, conhecemos algo independente da ajuda de nossa mente, como as revelações de Deus e os movimentos do Espírito Santo. Jamais Deus poderá ser percebido pela nossa mente, só pelo nosso espírito. É de máxima importância que saibamos que temos um espírito, pois, toda a comunicação de Deus conosco ocorre nele. Se não discernirmos nosso espírito, certamente, não saberemos como ter comunhão com Deus no espírito. Assim, passamos, a adorar e comungar com Deus através da alma, ficando sempre na esfera exterior, incapazes de alcançar a esfera espiritual.

Somos, então, espírito, alma e corpo. A alma é, como dissemos, o eixo de todo o nosso ser. Ela une o espírito com o corpo; o trabalho da alma é manter o espírito e o corpo relacionados. Assim nosso espírito, através da alma, pode governar o corpo. Para que a alma seja dirigida pelo espírito, ela precisa ser humilde e quebrantada. Sem quebrantamento, a alma sempre quererá ocupar o trono de governo de nosso ser. É por isso que só os humildes de espírito, os quebrantados, podem ser espirituais. Sem o quebrantamento seremos sempre dirigidos pela alma. Aqui tocamos a questão do livre arbítrio.

Deus deu ao ser humano a capacidade de escolha. Não somos fantoches nas mãos de Deus; Ele nos criou uma pessoa que pode ter decisões próprias. Pode escolher a direção que Deus dá (seguir o que Deus dita ao seu espírito) ou resistir, e seguir o caminho que Satanás mostra (seguir o que Satanás sugere à alma). Isto está bem ilustrado em Gênesis 3, onde relata a queda do homem.

O homem espiritual é aquele que é dirigido pelo Espírito Santo que nele habita. O Espírito Santo, portanto, age através do espírito do homem, alcançando a alma. O crente carnal é aquele que conhece a salvação através do intelecto, aceita a obra que Jesus fez por ele na cruz, mas vive sob a direção de sua alma; desconhece, ou não quer se submeter, à direção do Espírito Santo,

Domínio próprio, como fruto do Espírito, é ter a alma em perfeita submissão a Deus. Tendo a mente, vontade e emoções sujeitas à direção do Espírito Santo. É de máxima importância, para um discípulo de Cristo, viver guiado pelo Espírito de Deus, tal como foi Jesus em seu viver terreno. Falam-me muito os textos de Lucas no capítulo quatro, onde diz: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e foi guiado peio mesmo Espírito, no deserto”, ” e Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia” (v 14); “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar…” (vI8). Aqui temos uma vida, a vida do Senhor Jesus Cristo, inteiramente, submissa à direção do Espírito Santo; a alma de Jesus (sua mente, vontade e emoções) buscava conhecer em Sal espírito a direção que o Espírito Santo queria lhe dar.

Para quê? Para expressar a cada momento domínio próprio. Paulo, como que coloca um mandamento a todos nós, ao dizer: “Orando em todo tempo no Espírito” (Ef 6.18). O Apóstolo quer nos levar a viver sob completa orientação do Espírito. Só expressaremos domínio próprio quando formos dirigidos pelo Espírito Santo, que nos indica o que é mais próprio ou impróprio, para cada momento de nosso viver. Sabendo o que o Espírito diz ser o que é próprio para nós em uma determinada situação, temos de nos apropriar desta orientação e, então, através de nossa alma, a tomamos para nós; assim a vontade do Espírito Santo passa a ser a nossa vontade própria, que, uma vez realizada, impedindo que toda e qualquer outra vontade, seja da carne ou seja do inimigo, sejá realizada por nós.

“Enchei-vos do Espírito” (Efésios 5.18), é outro mandamento apostólico. Como precisamos ter nosso espírito transbordando com a presença do Espírito Santo, para exercermos sempre esta virtude: domínio próprio! Estar cheio do Espírito Santo não é algo difícil. As realidades de Deus para nós são fáceis. Deus não complica nada para nós; sempre as tàz simples. Nós é que as tomamos difíceis pela ação de nossa mente, vontade e sentimentos. Jesus falou claramente: “…O Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem” (Lucas 11.13). Isto é muito fácil: pedir e receber. Por que muitos não recebem logo após o pedido?

Porque deixam a alma agir em muitas de suas expressões. Jesus disse, no grande dia da festa, em Jerusalém, que o Espírito Santo, fluiria como “rios de água viva”, daqueles que cressem nele. Qual é a condição? Crer nele. Por que esses rios de água viva não estão fluindo assim em todos nós? Só tu podes responder sobre tua pessoa. Mas é fluindo do nosso interior (do nosso espírito) que o Espírito Santo também nos levará a expressar, em todas as suas formas, o “fruto do Espírito” em nosso viver diário.

Há outros importantes mandamentos apostólicos para os quais devemos estar atentos: “Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Efésios 4.30); e “Não apagueis o Espírito”(1 Tessalonicenses 5.19). Antes de Paulo dar o mandamento para não entristecer o Espírito, estava ensinando sobre o viver dos discípulos. Como eles precisam de domínio próprio para realizar toda esta instrução! Entristecendo o Espírito Santo, como Ele agirá em nós? Uma das formas de entristecê-lo é não manter comunhão contínua com Ele. A comunhão sempre produz alegria, e na alegria sempre há frutos. Apagar o Espírito, situação mais trágica, sempre é fruto de acomodação espiritual. O Espírito Santo quer que sejamos sempre fervorosos. Paulo nos pede isso: “No zelo não sejais remissos: sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Romanos 12.11). Não havendo fervor em nosso espírito, não há a necessária vitalidade para o Espírito permanecer, ou viver. Apagado o Espírito em nós, desaparece toda a possibilidade de termos domínio próprio. E isso sempre é trágico para nosso viver de cada momento.

CONCLUSÃO

Ao subir aos céus, Jesus Cristo recebeu um nome sobre todo o nome. Colocou-se sobre todos os principados, potestades, impérios, soberanias, poderes e domínios, para ser tudo sobre todos, tendo em todas as coisas a primazia. Toda esta mais alta posição que alcançou foi a recompensa dada a um único fato: nos conquistou para Deus, realizando assim o eterno propósito de Deus. Com isso exaltou a humanidade redimida a uma posição tão sublime, introduzindo-nos no mais íntimo círculo da divindade, “a fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que de antemão esperávamos nele” (Efésios 1.12). Ele nos fez assentar nos lugares celestiais com Ele. É aí que devemos viver. Mas, como viver na glória sem sermos como Ele é?

Todo esse estudo buscou mostrar que podemos ser como Ele é. Houve providência divina para tal. Deus enviou seu Santo Espírito que nos traz os dons espirituais. Como já dissemos, os dons são para o serviço no corpo de Cristo, com eles operamos pois somos servos no reino, mas eles não nos pertencem, pertencem àquele que os distribui, como lhe apraz, a cada um, individualmente. Os dons espirituais pertencem ao Espírito, eles se manifestam visando um fim proveitoso para a vida da igreja, através de cada um de nós. Mas o Espírito gloriosamente vem, também, com algo que é pessoal para cada um de nós, algo que é exclusivo, para cada um individualmente, e vindo a nós é para em nós permanecer para sempre: o fruto! Ele é produzido pelo Espírito Santo em nós, formando o caráter do Senhor em nossa pessoa, para sermos como Ele é para todo sempre.

Gálatas 5,22 foi o fundamento deste estudo. Louvamos a Deus por ter perpetuado em sua Palavra este texto tão significativo. Agora precisamos orar, buscando graça para viver o que o texto nos falou. O fruto do Espírito precisa ser um fruto maduro em cada um de nós, derramando-se no sabor e no delicioso perfume de Cristo Jesus. Assim seremos como Ele é. Possuiremos sua semelhança; sua perfeita varonilidade; conformes à sua imagem. Alcançaremos a mesma medida da sua estatura. Com isso, chegaremos ao pleno conhecimento d’Ele. Seremos como Ele é. Aleluia: “Cristo em nós, a esperança da glória” (Colossenses 1.27). .

Lembremos: A fé cristã fez-se presente no mundo com o anúncio do anjo: “encontrareis um menino” (Lucas 2.12). O profeta já dissera: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da paternidade, Príncipe da paz” (Isaías 9.6). Era um menino, mas tornou-se o Homem. A fé cristã não é uma ideia; é uma Pessoa. Aquele que, no dizer de um dos Pais Apostólicos “transformou nosso pôr-do-sol em aurora”. Tudo, para que nós, também, “não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrinas, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4.14.15). Amém.

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